- Oh mãe, não achas que o Ambrósio
quer sair desta gaiola tão pequena?
- Sair da gaiola?? Porquê, filha?
Aqui tem tudo o que precisa e se o soltássemos certamente morreria...está aqui
desde que nasceu...
- Já nasceu preso foi?
- Não filha, não estás a
perceber...na verdade nasceu como nós, livre, mas...para viver
numa gaiola...há animais assim...
Silêncio.
- Oh mãe, então, mas ele é livre, estando
preso?
- Ai filha, tanta pergunta…olha, é
feliz assim, pronto!
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Desde
muito pequenino o pobre Ambrósio foi enfiado numa gaiola na marquise da nossa
cozinha.
Os seus acordes matinais, relembravam as nossas células de como seria bom viver no campo e poder acordar ao som livre dos passarinhos.
Os seus acordes matinais, relembravam as nossas células de como seria bom viver no campo e poder acordar ao som livre dos passarinhos.
Como
compensação, tinha diariamente, alpista de qualidade superior, água fresca e com um pouco de sorte era transportado até
perto da janela onde podia deliciar-se a bronzear as suas penas amarelas.
Eu,
observava-o ao sol.
Apesar
de ter tudo, a sua essência era voar...e a verdade é que tantos anos passados,
só podia esvoaçar dentro daquela realidade de ferro, dom poleiro para a base e
da base para o poleiro.
Um
dia ao abrimos-lhe a gaiola, escapuliu-se.
Talvez
tenha sido o dia mais assustador da sua vida.
Esvoaçou
amedrontado para o outro lado da cozinha, ficando imóvel em cima do armário,
apesar dos histéricos gritos da Rosa, nossa “Fadinha do lar”, que acenava
freneticamente com o vermelho pano da loiça, na esperança que assustado
Ambrósio regressasse para baixo e humildemente se entregasse de novo à sua
“pena-de-prisão-perpétua”.
Pude
ver-lhe os olhos esbugalhados de medo, maiores do que a própria cabeça, quem
sabe a alcançarem a possibilidade de novos voos, após tantos anos de cativeiro.
Mas,
(parece existir sempre um “mas” em tudo), neles residiam as suas duvidas também
- estaria ele preparado para voar sem destino, para beber água das poças da
rua, ou pior ainda defender-se de espécies que o quisessem comer?
Curioso, parecia estar a acordar de
um sono profundo, para um pesadelo maior.
Afinal, tal como a prisão a liberdade
tem o seu preço.
Um preço alto muito alto. O preço da
responsabilidade sobre si-próprio, sobre as suas escolhas e decisões.
Foi então que levantou voo.
Um voo atormentado e confuso.
Assustado com a grandeza da liberdade Ambrósio decidiu voltar, deixando-se inocentemente agarrar pelo pano vermelho da Rosa.
Um voo atormentado e confuso.
Assustado com a grandeza da liberdade Ambrósio decidiu voltar, deixando-se inocentemente agarrar pelo pano vermelho da Rosa.
- Já te caçei, malandro -
disse convicta a Rosa, tornando seu todo o mérito da “caçada”.
Encolhido, Ambrósio voltou para trás
das grades.
Afinal, tinha tudo para ser feliz.
Boa cama, boa mesa, boa água e até baloiço.
Podia cantar, ainda que não no seu
tom.
Era quem queríamos que ele fosse, e
isso parecia bastar-lhe.
Cobarde, tinha tudo.
Excepto a liberdade de, sendo pássaro
poder VOAR!
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