Sou
apologista que as coisas verdadeiramente importantes da vida não se ensinam,
aprendem-se. Tal como o AMOR também o DESAPEGO se aprende, não nos livros, mas
nas experiências com que a vida nos vai trespassando, sempre que nos permitimos
ser por ela trespassados.
Aprender
o desapego, é duro mas profundamente
iniciático.
Se reflectirmos
sobre a natureza e os seus ciclos, percebemos rapidamente que nada é fixo, tudo
se renova constantemente e a transformação faz parte integrante da vida que nos
rodeia.
E,
que diferença tem a vida que nos rodeia da vida que somos? Nenhuma.
Porque
teimamos então na posse e no apego, se tudo dentro e fora de nós nos
“monitoriza” para um fluxo livre de vida, impermanente e desapegado?
Por
medo, claro.
Cada apego
nosso, mais cedo ou mais tarde, está condenado à cadeira eléctrica.
A
nossa essência não tem qualquer dúvida sobre isto. A nossa personalidade tem.
E,
por isso, sente-se apavorada e obriga-nos a apegarmo-nos mais e mais, na ignorante
e ingénua esperança de sermos imunes à impermanência da vida que como um lobo
mau parece devorar-nos. Apegamo-nos a tudo, ofegantes de amor e segurança.
O
verbo possuir em simultâneo ataca-nos e alicia-nos.
Numa
espécie de parceria perfeita, tornamo-lo o objecto mais valioso a que temos
direito se cumprirmos (de preferência por ordem cronológica) todas as “merditas”
que nos disseram serem vitais: Curso, profissão, casa, marido e filhos ( um
rapaz e uma rapariga já agora).
Quando
finalmente temos tudo isto, mas ainda assim estamos vazios de vida, o melhor
que encontramos para suprir o estado lastimável que nos arrasta é continuar a parceria,
não largar nada, prender bastante, atar o marido ou a mulher à mesa, certificarmo-nos
que também ela ou ele estão atados à porta, que por sua vez está atada à escada
(afinal a escada também é nossa, ora bolas, pagamos o condomínio) e…quando
estamos estupidamente estafados, com tudo o que “nos pertence” bem
controlado…zás…a corda rebenta!
E
porque será que ela rebenta?
Talvez
para nos mostrar que podemos USUFRUIR
de tudo, mas não podemos POSSUIR
nada!
O apego tira-nos por completo a
liberdade, e pode ter consequências catastróficas na nossa vida, principalmente
quando nos apegamos a pessoas e
usamos com elas a mesma password que usamos na vida em geral. Assim sendo, um
dos terrenos mais férteis para trabalharmos no sentido do desapego, são sem dúvida as nossas relações amorosas. Aqui os
grandes conflitos, causados pela posse, espelham-nos a cada segundo a nossa imbecilidade
e ignorância, quando (ainda que de mansinho) decidimos que temos não só o
direito, como também o dever de “algemar” o outro, para que seja para sempre
nosso, molestando-o com os benditos ciúmes, medalhas de ouro, na arte que é
chamar AMOR às nossas carências.
De
ilusão em ilusão, de apego em apego, destruídos por dentro, vamos aprendendo a
deixar ir aos poucos aquilo que sabemos só nos faz mal e ilude de segurança. Ao
sermos obrigados a largar, vamos construindo uma identidade cada vez mais
verdadeira e livre de apertos involutivos.
O
DESAPEGO é fundamental na aprendizagem da VIDA e do AMOR.
Quem
AMA liberta, respeita o caminho e as escolhas do outro.
Quem
se APEGA engana-se de AMOR.
Quem AMA
jamais se poderá APEGAR.
gostei muito cris, faz-me todo o sentido .Só amando desapegadamente deixa de haver medos e pressas. eu estou caminhando para sentir isso, essa libertação , esse amor
ResponderEliminarTantas e tantas vezes me acontece isto... leio os teus artigos e fico parado. Mãos no queixo a olhar para o vazio atrás do ecrã.
ResponderEliminarQuando "acordo" só me lembro de dizer "puxa"... fantástico
( chegou-me hoje a encomenda que fiz para Lisboa do teu livro... já tenho que ler no fim de semana hehehe )