Talvez
eu tivesse uns 7 anos. Passeava com a minha avó, quando nos cruzámos com uma
senhora cabisbaixa e toda vestida de preto. Dela recordo os seus olhos fundos
de onde saíam como que pintadas, arroxeadas olheiras, que ajudavam a carregar
ainda mais o seu já tão carregado rosto.
Começou
a falar, relatando drama após drama, dores e mágoas, sintetizando a conversa
com a convicção profunda de que “a vida lhe corria mal devido à inveja que os
outros tinham dela”.
Mulher
sábia, a minha avó, escutou-a atenta. No fim, em jeito de
“não-te-rales-com-isso”, disse-lhe que talvez estivesse a dar demasiada
importância ao assunto e que no fundo, a inveja é como qualquer acção, fica com
quem a pratica. No entanto e por “via-das-dúvidas” J nada como repetir o hábito da sua
tia, despedir-se de toda a gente, com um bafejante e convicto“ desejo-lhe o
dobro do que deseja para mim”.
Apesar
de nunca ter dado grande importância a este assunto, recordei-me deste episódio
no dia exacto em que uma amiga, ao ver que eu tinha um carro novo, me surpreendeu
com um “ afinal sempre tens dinheiro para trocar de carro? “
Congelei.
Não estava à espera daquela triste reacção.
Pela primeira
vez senti na pele a dor de alguém que por não ter algo, reagiu de forma
negativa ao ter alheio.
Acredito
que isto é o que o senso comum chama Inveja.
Acredito
no entanto que posicionados naquilo que somos, bem definidos naquilo que
queremos e corajosamente audazes para unir o que somos com o que queremos, agindo
em conformidade, em nada isto nos pode afectar.
Afinal
é um sentir do outro, que apesar de entristecer, não tem o poder de nos
limitar. Atribuir as coisas menos boas das nossas vidas à inveja que os outros
podem sentir, nada mais é que uma forma patética de nos desresponsabilizarmos
das nossas escolhas e acções.
Pode
ser desagradável receber um comentário “invejoso” de alguém. Não há dúvida, que
é maravilhoso sentir que quem nos rodeia mostra alegria genuína pelas nossas conquistas,
sabendo naturalmente que a lei da abundância a todos beneficia (apesar de nem
todos dela saberem usufruir).
Talvez
esta seja a grande frustração dos “invejosos”, o desconhecimento da abundância nas
suas vidas, quem sabe porque pouco fazerem pela mesma.
Um
imenso complexo de inferioridade, fá-los sentir incapazes de alcançar o que
veem que os outros naturalmente alcançam.
Acreditam
na sorte alheia e no seu próprio azar.
Não
percebem que os audazes chamam à sorte - perseverança, coragem, resiliência. Não
percebem que esses mesmos audazes, humanos que são, têm contemplado também nas
suas vidas os ditos “azares”. Costumam é chamar-lhes experiências,
aprendizagens e normalmente “não-são-coisas-dignas-de-ser-invejadas”.
Como
um roedor, a inveja roí por dentro quem a sente.
E,
como tudo se passa dentro de nós, talvez a tia da minha avó estivesse certa ao “desejar
sempre ao outro o dobro do que ele lhe desejava”.
Acredito
que esta era uma forma sábia, de permitir uma rápida mas lúcida viagem
interior, onde a profundidade da Lei do Retorno era num ápice consciencializada
pelo “invejoso”, não diretamente pelo seu desejo escondido, mas sim, pelo impacto
que a “qualidade” do mesmo teria na sua vida ao regressar em dobro para si.
Tudo
faz parte da nossa transformação e ampliação de consciência.
Uma coisa é certa, não há história de se semear batatas e se colher agriões.
Uma coisa é certa, não há história de se semear batatas e se colher agriões.
Colhemos
o que semeamos.
Recebemos
o que enviamos.
Não
somos o que temos, mas temos na medida que somos.
Afinal,
a Vida é simples.
São
apenas escolhas.
Adorei ler !! E mais , não era só a tua tia que se despedia assim . Eu também o costumo fazer :)))) . Achei muito bom encontrar identificação . Grata
ResponderEliminarGostei do que li. Assim fui ensinada a estar na vida - desejando aos outros aquilo que me desejam a mim -, e assim me deito tranquila todas as noites.
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