terça-feira, 16 de outubro de 2012

Amigos Coloridos - Versão light para o Medo de Amar


Há quem diga, que é mais fácil de uma amizade, resultar um romance, do que de um romance, ficar uma amizade. 
Pois eu cá não posso concordar com isto, a não ser que estejamos a falar do que tanto por aí se fala hoje que são as ‘amizades-coloridas’, que pelo que tenho constatado, de amizade têm realmente muito pouco.

Mas, o que vem então a ser um amigo(a) colorido(a)?

Quando coloquei a questão diretamente, a Maria* (nome fictício), a resposta estava mecanicamente pronta, como se tivesse sido decorada para ser repetida com exatidão, antes de mais para si própria.
Então um amigo(a) colorido é “alguém que não quer compromisso, mas que apesar disso, mantem uma “relação-amorosa-connosco”.
A sua aparente descontração ao falar sobre isto, contrariava a razão pela qual estava ali comigo. E a razão era muito simples.
Maria queria uma coisa, mas estava a viver outra.
Pior ainda, enganava-se, vezes sem conta ao repetir, que aquele era o tipo de relação que a satisfazia e para a qual estava preparada.
Supostamente aquele ‘amigo-colorido’, que deveria contribuir para trazer mais cor à sua vida, não passava de ‘um-fiasco-a-preto-e-branco’.

Tal como Maria, quem vive estas dinâmicas, afirma muitas vezes com uma certa leveza que esta é uma experiência ótima, (e até pode ser), mas para que o seja é preciso que se esteja realmente alinhado com o propósito da mesma e que não se confundam as coisas.
Sabermos que uma nespereira jamais dará abacates, pode ser um bom começo. Não inventarmos o outro, nem o tipo de relação e não exigirmos que as coisas sejam aquilo que elas não têm energia para ser.

Porque surgiram estas “ amizades”?

Sem hesitar, afirmo - para aprender o Amor e o Respeito, numa primeira fase através daquilo que ele não é.
Acredito que todos nós queremos ser amados. No fundo, todos desejamos ter uma relação de cumplicidade, entrega e partilha profunda de sentimentos. No entanto até atrairmos isto, precisamos reconfigurar aquilo a que chamamos Amor e aquilo que chamamos relação.
Talvez para que se acelere esta consciência e esta transformação, a Vida tenha dado um empurrãozinho para que estes “modelos” aconteçam. Eles são sem duvida, uma forma de sermos confrontados de perto com a nossa dualidade e obrigam-nos mais cedo ou mais tarde, a sair desta mesma dualidade,  pela porta da frente - a porta da Alma, e não pela dos fundos – a porta do Ego, como outrora fazíamos.

Embebidas, grande parte das vezes, pelas nossas carências e medo de Amar, estas relações nutrem-se da indiferença (normalmente mais de uma das partes) e de Desamor, embora disfarçadamente a isto gostamos de chamar Desapego, Liberdade e ausência de Compromisso.   
Deixemos de confundir as coisas.
Amigo(a) é amigo(a). Está presente. (ainda que não o faça sempre fisicamente). Sente-se. Podemos contar com ele(a). Podemos partilhar, ser verdadeiros. Não precisamos escondê-lo(a), nem sermos por ele(a) escondidos. Não nos usa quando quer e deita fora quando já não apetece. Faz parte da nossa Vida e nós da Vida dele(a).
É verdade que precisamos de aprender o que significa realmente Compromisso, Verdade, Desapego e Liberdade a dois. Precisamos de aprender a partilha pura e genuína dos afectos, sem medos ou restrições, mas também sem ciúmes ou posses.
Precisamos crescer na relação connosco mesmos, e por isso precisamos do outro, que como um espelho nos mostra sabiamente o que ainda precisamos de aprender.
Mas, se a nossa Alma nos chama para vivermos relações de Amor profundo e de respeito, então porquê continuar permitir desrespeitos, apenas por carência, continuando a alimentar mutuamente o medo de Amar e de se entregar verdadeiramente a alguém?
Muitas vezes é preciso saber parar com os equívocos, quando já deixaram de ser aprendizagens e ficar só, mimando-se e reconhecendo a ‘cor da amizade’ com que a Vida diariamente nos surpreende. 
Só assim estaremos aptos(as), para no tempo exato nos deixarmos colorir em verdade por alguém que seja realmente nosso(a) amigo(a), que queira pintar a tela da Vida ao nosso lado, sem medos,  resistências ou distorcidas  'confusões’ .     

  

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