Há quem diga, que é mais fácil de uma
amizade, resultar um romance, do que de um romance, ficar uma amizade.
Pois eu cá não posso concordar com
isto, a não ser que estejamos a falar do que tanto por aí se fala hoje que são
as ‘amizades-coloridas’, que pelo que tenho constatado, de amizade têm
realmente muito pouco.
Mas, o que vem então a ser um
amigo(a) colorido(a)?
Quando coloquei a questão
diretamente, a Maria* (nome fictício), a resposta estava mecanicamente pronta,
como se tivesse sido decorada para ser repetida com exatidão, antes de mais
para si própria.
Então um amigo(a) colorido é “alguém
que não quer compromisso, mas que apesar disso, mantem uma “relação-amorosa-connosco”.
A sua aparente descontração ao falar
sobre isto, contrariava a razão pela qual estava ali comigo. E a razão era
muito simples.
Maria queria uma coisa, mas estava a
viver outra.
Pior ainda, enganava-se, vezes sem
conta ao repetir, que aquele era o tipo de relação que a satisfazia e para a
qual estava preparada.
Supostamente aquele ‘amigo-colorido’,
que deveria contribuir para trazer mais cor à sua vida, não passava de
‘um-fiasco-a-preto-e-branco’.
Tal como Maria, quem vive estas
dinâmicas, afirma muitas vezes com uma certa leveza que esta é uma experiência
ótima, (e até pode ser), mas para que o seja é preciso que se esteja realmente
alinhado com o propósito da mesma e que não se confundam as coisas.
Sabermos que uma nespereira jamais
dará abacates, pode ser um bom começo. Não inventarmos o outro, nem o tipo de
relação e não exigirmos que as coisas sejam aquilo que elas não têm energia
para ser.
Porque surgiram estas “ amizades”?
Sem hesitar, afirmo - para aprender o
Amor e o Respeito, numa primeira fase através daquilo que ele não é.
Acredito que todos nós queremos ser
amados. No fundo, todos desejamos ter uma relação de cumplicidade, entrega e
partilha profunda de sentimentos. No entanto até atrairmos isto, precisamos
reconfigurar aquilo a que chamamos Amor e aquilo que chamamos relação.
Talvez para que se acelere esta
consciência e esta transformação, a Vida tenha dado um empurrãozinho para que
estes “modelos” aconteçam. Eles são sem duvida, uma forma de sermos
confrontados de perto com a nossa dualidade e obrigam-nos mais cedo ou mais
tarde, a sair desta mesma dualidade,
pela porta da frente - a porta da Alma, e não pela dos fundos – a porta do
Ego, como outrora fazíamos.
Embebidas, grande parte das vezes,
pelas nossas carências e medo de Amar, estas relações nutrem-se da indiferença
(normalmente mais de uma das partes) e de Desamor, embora disfarçadamente a
isto gostamos de chamar Desapego, Liberdade e ausência de Compromisso.
Deixemos de confundir as coisas.
Amigo(a) é amigo(a). Está presente.
(ainda que não o faça sempre fisicamente). Sente-se. Podemos contar com ele(a).
Podemos partilhar, ser verdadeiros. Não precisamos escondê-lo(a), nem sermos
por ele(a) escondidos. Não nos usa quando quer e deita fora quando já não
apetece. Faz parte da nossa Vida e nós da Vida dele(a).
É verdade que precisamos de aprender
o que significa realmente Compromisso, Verdade, Desapego e Liberdade a dois.
Precisamos de aprender a partilha pura e genuína dos afectos, sem medos ou
restrições, mas também sem ciúmes ou posses.
Precisamos crescer na relação
connosco mesmos, e por isso precisamos do outro, que como um espelho nos mostra
sabiamente o que ainda precisamos de aprender.
Mas, se a nossa Alma nos chama para
vivermos relações de Amor profundo e de respeito, então porquê continuar
permitir desrespeitos, apenas por carência, continuando a alimentar mutuamente
o medo de Amar e de se entregar verdadeiramente a alguém?
Muitas vezes é preciso saber parar
com os equívocos, quando já deixaram de ser aprendizagens e ficar só,
mimando-se e reconhecendo a ‘cor da amizade’ com que a Vida diariamente nos
surpreende.
Só assim estaremos aptos(as), para no
tempo exato nos deixarmos colorir em verdade por alguém que seja realmente
nosso(a) amigo(a), que queira pintar a tela da Vida ao nosso lado, sem
medos, resistências ou distorcidas 'confusões’ .
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