Humanos
que somos, há coisas que gostaríamos de poder ignorar, pois sabemos que não as
ignorando, mais cedo ou mais tarde teremos lidar com elas.
A dor é uma delas. Regra geral, entra-nos pela casa adentro sem pedir licença, pois se pedisse talvez não fosse deixada entrar, mostrando-nos que há uma parte do nosso caminho, que pertence ao Criador, só ele capaz de nos esculpir como barro vezes sem conta até que a “nossa-forma-ideal”, não aquela em que nos tornámos, mas sim aquela que somos, esteja concluída.
A dor é uma delas. Regra geral, entra-nos pela casa adentro sem pedir licença, pois se pedisse talvez não fosse deixada entrar, mostrando-nos que há uma parte do nosso caminho, que pertence ao Criador, só ele capaz de nos esculpir como barro vezes sem conta até que a “nossa-forma-ideal”, não aquela em que nos tornámos, mas sim aquela que somos, esteja concluída.
Polaridade do prazer, a dor é parte
integrante da existência humana e acontece-nos não como uma punição divina, mas
sim como possibilidade de ‘não-punirmos’, nem abafarmos o divino que existe
dentro de cada um de nós.
Sem dor, não poderia haver crescimento, nem transformação.
A dor é iniciática. Só ela permite
aceder às profundezas do nosso oceano, mostrando-nos que apesar de profundo,
nele existe uma beleza única, capaz de nutrir com esperança os nossos
desencantos e manter lúcidas as nossas conquistas.
Aceitá-la não é enrolar-se nela, mas sim torná-la nossa aliada.
Aceitá-la não é enrolar-se nela, mas sim torná-la nossa aliada.
Não querer ultrapassá-la, como se ultrapassa o carro que segue à nossa frente na estrada, mas sim atravessá-la, como atravessamos a ponte que se edifica sobre as águas e que indubitavelmente nos permite chegar à outra margem do rio.
Também a dor depois de atravessada
tem a sua outra margem.
Atravessá-la é caminhar através da noite
escura a que nos convida, relembrando no nosso âmago, que naturalmente o dia a
ela se seguirá.
Atravessá-la, é honrá-la nos seus
desígnios maiores, gastando-a aos poucos, com a mesma simplicidade com que
gastamos o leite do frigorífico ou o arroz da dispensa.
Transcende-la, pois nela reside o divino.
Transcende-la, pois nela reside o divino.
É que por mais epidurais que existam, não há parto sem dor, nem gestação sem ambiente propício: o escuro.
Perante o milagre do nascimento, só o
amor pode transmutar a dor, mostrando-nos com sabedoria o “resultado” da mesma
no mistério que é a Vida.
Alquimistas que somos, precisamos de
morrer e nascer várias vezes nesta mesma vida. Isto dói é certo, mas a dor que
nos dói é a mesma que lima e amacia as arestas da nossa personalidade. É a
mesma que nos obriga a sair do útero das nossas limitações, onde aprendemos que
morrer todos os dias para o medo, significa pela ‘ciência-exacta-das-polaridades’,
nascer todos os dias para o Amor.
Caminho
escuro e individual, pois ninguém pode por nós fazê-lo, atravessar a dor é
contrair para sempre matrimónio com a Vida.
Comprometer-se
em verdade com ela.
Nunca a abandonar – nem na saúde, nem
na doença, nem no prazer, nem na dor, honrando a sua eterna cumplicidade, aliança
resultante do ouro interno e eterno que é estar vivo e saber-se tão-somente … AMOR, marca maior deste grandioso e gigante puzzle onde todas as peças da nossa existência acabarão um dia por encaixar!
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