Artigos ZEN


Entrevista ZEN Julho 2017 

















Parcerias Espirituais ( Julho 2013)

 A vida é simples. São apenas escolhas.
Escolhas que nos confrontam com partes de nós que precisam de ser transformadas, por estarem ainda desajustadas com a verdade da nossa Alma e com o propósito a que ela nos desafia.
Na vida tudo está certo, por isso nunca se coloca a possibilidade de podermos errar.
Não podendo errar, resta-nos apenas escolher.
Quereremos nós viver num plano mais “ horizontal”, e na “insatisfeita-satisfação” dos desejos do nosso amedrontado Ego, representando na vida uma “vida-de-fora-para-dentro” ? Ou optaremos por trazer mais consciência ao nosso interior, posicionando-nos na “ vertical”, a partir a vontade da nossa Alma, vivendo “ de-dentro-para-fora” e percebendo que esta escolha nos  leva ao mais verdadeiro que em nós existe e nos aproxima intimamente do nosso propósito espiritual?
Como escolhemos então viver as nossas vidas? Como escolhemos então experienciar as nossas relações?
Desafiantes propostas de crescimento, as nossas relações tornam nítidos em nós estes dois eixos.
Experienciá-las a partir do medo e de “fora-para-dentro”, numa primeira fase é fundamental para entendermos “quem-não-somos” ou “o-que-não-queremos-para-nós”.
Mas….esta fase tem o seu tempo.
Se nos formos realmente transformando, a determinado altura perceberemos que é vital reposicionarmos e viver a partir de quem somos e não de quem gostaríamos de ser ou de quem nos mascarámos a vida inteira.  
O convite destes tempos de verdade e de mudança, é sem dúvida acabarmos com as “ amarras-relacionais”, montagens débeis dos nossos egos feridos e subirmos uma oitava acima, relacionando-nos com o outro a partir duma vontade genuína, aceitando a relação como uma parceria espiritual, onde dois seres conscientes e individualizados (não confundir com individualistas) buscam ampliar mais as suas consciências, aceitando esta parceria num total comprometimento com a Verdade e com a proposta de transformação, que cada um sabe, inevitavelmente surgirá.           
Quando espiritual, uma parceria sabe que a Alma é exigente, mas generosa e que as aprendizagens para que estão a ser chamados serão vitais para o desenvolvimento de ambos na Terra, por isso aceitam as dinâmicas com consciência e espaço verdadeiro para que a transformação aconteça.
Conhecem a profunda simplicidade do AMOR, que não confundem com paixão, nem com apego. Não buscam complementaridade, mas sim sinergia. Não buscam sememlhanças, mas sim afinidades. 

Sabem SER na PRESENÇA do outro, porque SÃO na sua própria PRESENÇA.


Como aceitar o fim da relação sem mágoas, raivas ou gritos?

Acredito que na vida um dos nossos grandes desafios é mesmo o de aprender a aceitar o que não podemos modificar.
Quando o que nos acontece não faz parte dos nossos planos, a nossa resposta normalmente é revoltarmo-nos e apegarmo-nos com unhas e dentes ao que queremos a todo o custo manter, mesmo que a Vida nos mostre essa impossibilidade.
Habituados a que os nossos projetos, desejos e vontades imperem sobre aqueles que a vida tem para nós, somos peritos na “não-aceitação” e a prova disso são as atitudes que muitos de nós têm, quando confrontados com o fim das suas relações.
Apesar do Amor, quando verdadeiro não ter ruturas, já as relações usam duma espécie de prazo de validade, que depois de expirado, é importante aceitar, mesmo que a dor da perda não deva ser evitada, para que todo o processo de transformação se possa realizar. 
Retirar as aprendizagens das ruturas é sem dúvida um ponto de partida para o nosso autoconhecimento.
Ninguém nos ensina a sentir, nem a identificarmos aquilo que sentimos.
O que isto quer dizer, é que ao sermos confrontados com situações que fogem totalmente ao nosso controle, acionamos mecanismos de defesa, estilo “estimulo-resposta”, que nos levam a reagir apoiados na dor, ao contrário de agirmos com consciência daquilo que estamos a sentir.

Raiva, medo, mágoa são sentimentos que existem em todos nós.
O mais importante não é controla-los, bloqueá-los, mas sim, identifica-los e aprender a geri-los no sentido de se poderem tornar aliados do nosso crescimento pessoal e não o contrário.
Quando uma relação termina existe todo um processo que precisa ser aceite. Certamente nela existiram coisas boas e menos boas e mais do que alimentar ressentimentos do que podia ter sido mas não foi, importa reconhecer o quanto crescemos e nos transformamos durante todo o processo.

Nutrirmos a raiva, a mágoa ou os gritos de desespero com o outro só nos levam ao desgaste e nos afastam mais e mais de nós.
Na verdade tudo na vida está certo para aprendermos o que precisa em nós de ser acertado. Por isso, nada do que nos acontece é obra do acaso.
Terminar uma relação, supõe à partida que nela não poderíamos mais crescer ou não poderíamos mais ser nós mesmos.
E, como a vida é cíclica, mágica e muito inteligente, ao fecharmos capítulos de um livro que já lemos, novos capítulos surgem de seguida.
O fim de algo é sempre o começo de algo também.
Aceitar a mutabilidade da vida e a sua dinâmica é essencial para nos desapegarmos daquilo que já não nos serve, apesar das nossas carências muitas vezes gritarem o contrário.
Espernear não vale a pena. 
Saber deixar ir, é uma das grandes aprendizagens na vida.
Ao deixarmos ir, sem apegos, uma brisa pura e leve entra em nós, retirando-nos todo e qualquer espaço para mágoas ou gritos, conduzindo-nos apenas no caminho da consciência, da maturidade e da transformação.

Zen Abril 2013       


-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Artigo ZEN Fevereiro de 2013

Verdade ou consequência - Quando a mentira entra na relação.



Quando era criança, recordo-me de participar num jogo de grupo, que consistia em confrontar o outro com a pergunta - "Verdade ou Consequência?", podendo este escolher entre estas duas opções. Se escolhesse "verdade", teria de responder com sinceridade a uma pergunta do primeiro, se por outro lado optasse pela "consequência", sujeitar-se-ia à imaginação dos outros jogadores. O tipo de “consequência”, podia variar entre um desafio físico banal até algo psicológico e mais profundo.
Se resumirmos esta brincadeira, percebemos que, ao dizer a Verdade o jogador, a nada mais seria sujeito, ficando portanto “imune” à imaginação dos outros participantes.
Falo-vos deste jogo, por sentir que esta analogia faz sentido, no que respeita às nossas relações amorosas.   
Passo a explicar.     
Ao longo destes últimos anos, em que me tenho dedicado aos “ amores” e “desamores”, deparo-me diariamente, com situações muito difíceis entre casais devido ao uso e abuso da mentira, ou aparentemente menos grave (segundo muitos), à constante e recorrente “omissão”, que, não sendo mentira (opinião de muitos também), cria um hiato de dúvida entre duas pessoas, mesmo sem que disso elas se apercebam.
Mas, será assim tão importante “contar-tudo” ao outro?
Eu, diria que quando se trata de partilhar aquilo que se sente, sim, mais do que importante, é VITAL. No entanto, é preciso não confundir as coisas. Não se trata de fazer relatórios indetermináveis sobre o que se passou no nosso dia ponto por ponto, até o outro tombar de exaustão, mas sim expressar abertamente os nossos sentimentos, estados, medos, expetativas, enfim, tudo aquilo que se não for exprimido deixará resíduos tóxicos na relação com nós próprios e com o outro. Numa relação saudável, é fundamental cada um deve ter a sua própria individualidade (eu não disse individualismo), J o seu próprio espaço, mas estar atento e recetivo ao espaço comum dos dois. E, é esse que se não se basear na verdade, terá alicerces frágeis demais e ruirá ao primeiro “abanão”, ainda que muitas vezes nos queiramos iludir do contrário.
Afinal, porque mentimos nós?
Sempre que em terapia, esta pergunta surgiu, a resposta repetiu-se - “ o outro não está preparado(a) para a Verdade e não vale a pena magoá-lo (a)”.
Curioso, não é? É assim, que apegados a esta ilusão vamos somando mentiras e mais mentiras, omissões e mais omissões, tudo porque muito “bonzinhos” não queremos magoar o outro.
Claro está, que a questão não é magoar o outro, mas sim podermos magoarmo-nos a nós próprios. Assumirmos a responsabilidade das nossas “verdades” , sem qualquer garantia que as mesmas estejam “certas”, leva-nos ao campo da incerteza e é disso que temos medo.
Por outro lado, se nos desapegarmos das expetativas e nos focarmos apenas na verdade do que sentimos, na nossa autêntica e genuína vontade de os partilharmos com o outro, nada temos a temer.
Não me canso de afirmar que, numa relação a verdade e a transparência são fundamentais e só elas podem criar laços autênticos entre duas pessoas.
Outra das questões de que me tenho apercebido é a velha “história” do casal, que apesar de verbalizar vezes sem conta que na sua relação “ quer a verdade acima de tudo”, ao ser por ela confrontado, reage, acusa, tem dificuldade em aceitá-la, revelando muitas vezes, uma espécie de acordo simbiótico e secreto, com a “inverdade”, a falta de transparência e contrariamente ao que repete, uma grande resistência à verdade.
Assim sendo, seremos nós vitimas da mentira do outro? Ou será que tão-somente somos cúmplices das nossas próprias mentiras, que queremos a todo o custo manter?
Quando a verdade “estraga” uma relação, algo nela tem já de estar bastante estragado. O mesmo acontece, quando pensamos que ela afasta, não percebendo, que o afastamento é tão-somente o resultado do campo minado por dezenas de “inverdades” que com mais ou menos consciência quisemos manter. Parece que quando a verdade pode nos pode fazer doer, a mentira parece consolar.  
A Verdade une, não separa.
O nosso único compromisso numa relação devia ser realmente com ela e nada mais. Acredito que se assim fosse, as relações seriam muito mais saudáveis, sem dependências, controles ou desconfianças.  
Afinal, tal como no jogo, só a verdade tem o poder de nos tornar imunes à imaginação do outro, pois quando assim é, a confiança surge naturalmente, aniquilando, como que por magia, padrões destrutivos, como a posse, os ciúmes, ou controle doentio. Estes deixam de ter espaço de expressão, passando a relação a ser nutrida pelo encontro verdadeiro, o crescimento mutuo e a união profunda entre duas pessoas, que se amam VERDADEIRAMENTE.   

---------------------------------------------------------------------------------------------------------

( Artigo do mês de Dezembro 2012 )

Viver com medo de mudança

Uma das nossas maiores dificuldades é a aceitação de que nada na vida é permanente. Ou seja, a única permanência da vida é a sua constante impermanência. Esta dificuldade, empurra-nos para a ilusão da ‘não-mudança’, levando-nos a acionar os nossos mecanismos de defesa e resistência sempre que um sinal de alerta surge. A mudança é uma inevitabilidade existencial, intrínseca a todos os seres,  que escolhem incarnar nesta bola azul chamada Terra.
Convidados que somos à transformação, a mudança torna-se imprescindível e o nosso grande medo é deixarmos uma zona de conforto, onde mesmo desconfortáveis, ainda nos reconhecemos de uma ou de outra forma.
Mudança & Transformação
Basta observarmos a natureza para percebermos que nascemos com uma ‘impossibilidade-inata’ , de controlar o fluxo natural da vida em nós. Curioso perceber como na natureza não há resistências de espécie alguma. Tudo interage, tudo aceita o seu propósito e flui naturalmente com ele. O bambu abana com o vento, podendo até tocar o chão, mas flexibiliza-se no seu movimento. A árvore não tem qualquer apego às suas folhas, deixando-as cair dos seus galhos no Outono, e aceitando de novo a sua chegada na Primavera.
O dia sucede-se à noite vezes sem conta, o sol á chuva, o frio ao calor, a vida à morte e a morte à vida… tudo numa cooperante dança de aceitação da dinâmica impermanente da existência.  

Tal como na natureza, as mudanças que a vida nos propõe são apenas convites à transformação. Condições propostas pela própria vida para podermos ‘descondicionar’ o que não é vida em nós. 
E, da mesma forma que não podemos mudar o dia e a noite, não podemos evitar certos processos de mudança, apesar de nos iludirmos do contrário, criando resistências que nos levarão apenas a atingir o nosso limite máximo, para nos obrigar drasticamente a virarmos o seu contrário.
  
Aceitar as mudanças e transformarmo-nos com elas é inevitável.
Nascemos a vibrar numa essência de luz e paz, totalmente ligados à fonte da abundância da Vida.
No entanto, agarrados a crenças e ‘pré-conceitos’ , acreditamos que ao tirarmos o curso, adquirimos a casa, os filhos e o casamento de sonho estamos a construir a nossa identidade, quando muitas vezes estamos a fazer exatamente o contrário. Correspondermos às expetativas dos outros, vai-nos afastando da fonte natural da vida – a verdade da nossa Alma, única para cada um de nós.
E, é essa verdade, propósito verdadeiro de cada Alma na Terra, a que a Vida parece ser profundamente fiel, e por isso vai-nos fazendo convites de mudança, para que a transformação aconteça e a proximidade à nossa essência seja uma realidade.
Nada pode ser estático em nós, pois nada na natureza o é.   
Porque temos nós a ilusão que podemos gastar as chances que a vida nos dá? Arrastarmos situações que sabemos já não serem para nós, na esperança que não mudando nada, tudo mude, é perda de tempo.
Para quê manter um emprego que nada nos diz, ou um casamento onde não amamos nem nos sentimos amados?
Na verdade, quando a Vida nos aponta uma mudança de direção é porque algo de muito bom (e principalmente de ‘ muito-certo) ela tem guardado para nós.

Para quê ter medo das mudanças, se qualquer caminho é delas feito?
Viver não é somente existir. Viver é inalar a vida, deixá-la trespassar as nossas células. Senti-la em nós, sem a ela nos apegarmos. Sabermo-nos dela. Aceitarmos a mudança que nos propõe e a transformação a que nos desafia. Aceitarmos o seu movimento em nós sem contrariar o seu fluxo… inteligentemente mutável, eternamente alquímico!   





Terapia de casal  ( Guia Terapias ZEN Out. 2012) 

Quis a vida (e eu claro está!), que ao longo do meu caminho, fosse integrando aprendizagens que me levaram a desenvolver alguns programas específicos na área dos relacionamentos, programas estes que aplico também com o que é comum chamar-se terapia de casal.
Apesar de não ter receitas, nem nenhuma varinha de condão que me permita “ condar” as relações tornando-as mais saudáveis e harmoniosas, acredito que uma relação é uma excelente forma de transformação pessoal e que os conflitos que através dela surgem, são dádivas da vida, que nos convidam a uma consciência mais ampla e integral sobre nós próprios e sobre o que em nós precisa de ser sanado.
Mudam-se os tempos…surgem novas vontades e…outras verdades também…
“O que está a acontecer com a nossa relação?” – Perguntava-me outro dia alguém em desespero por não conseguir entender a “viragem-brusca”
(palavras suas) a que a sua relação parecia ter sido submetida. Relatava que “de-um-dia-para-o-outro” o marido lhe pediu o divórcio, que ela decidiu não aceitar, por “achar” que não havia motivos para isso. Perguntei-lhe se sentia que ainda aprendiam um com o outro e se a relação a estimulava de alguma forma.
Respondeu perentoriamente que não.
Porque “achava” então que não havia motivos para uma separação? – questionei.
“Porque para mim o casamento é para sempre! ” – afirmou triste, baixando a cabeça.   

Este e muitos outros casos revelam como as crenças e as ilusões que criamos conseguem cegar-nos por completo, levando-nos a gastar as chances que a vida nos dá, (como se elas se pudessem gastar assim) e a acomodarmo-nos em incómodas relações que só oprimem e atrasam o nosso crescimento.  
Na verdade, as relações estão a mudar, as “coisas” já não são como eram. Novos paradigmas estão a surgir, confrontando e desmontando os nossos egos, que cheios de “entulho”, ( nossas crenças e expetativas), ousam rasteirar-nos, afastando-nos da nossa verdadeira essência.
Esta “viragem-brusca”, há muito que vem acontecendo dentro de cada um de nós. Só a nossa resistência à mudança nos mantém míopes, muitas vezes anos a fio, fugindo da verdade e querendo acreditar que a mentira nos conseguirá “manter-vivos”, para algo que sabemos e sentimos ter já morrido.  
Algumas ‘dificuldades’ em tempos de mudança
Nas sessões e grupos que facilito, tenho constatado, que existem questões que são hoje muito comuns e que estão na origem de muitos dos conflitos relacionais. Entre elas posso enumerar o compromisso ( na forma como cada qual o concebe), a falta de transparência e verdade ( por medo de não se ser aceite e de ‘perder’ o outro), a falta de vocação para se permanecer monogâmico ( e a falta de verdade consigo mesmo e com o outro para o assumir) e por último as lacunas criadas por diferentes níveis/ estados de consciência no casal.
Não irei, aprofundar estas “dificuldades” (ficará para outro nº), apenas reforçar que elas nada mais são que convites à mudança e à transformação pessoal.
Para que as nossas relações sejam impregnadas de brisa fresca, é preciso ousar separar o que nos incutiram como sendo verdade e o que é realmente verdade em nós. E, este é o grande desafio com que, de uma ou de outra forma, todos nos deparamos.   
Esta “separação-do-trigo-e-do-joio”, começa em nós, com um profundo trabalho de consciência, pautado pela aceitação e pela honestidade.
Recorrer a alguém que pela sua experiência e formação nos ajude a clarificar dinâmicas escondidas em nós e que nos oriente em direção a quem somos verdadeiramente, pode ser importante em certas etapas do percurso. Esse alguém (o terapeuta) é tão-somente o facilitador de um processo, que a maior parte das vezes já iniciámos, quando a ele recorremos. Não tem receitas bombásticas, bolas de cristal ou curas milagrosas. Tem no entanto propostas para um trabalho em direção à relação mais importante de qualquer momento ou etapa de vida – a relação com nós próprios. Assim sendo, e apesar de estarmos a falar de terapia de casal, o trabalho principal é sempre do individuo com ele próprio. Sugiro no entanto, que ‘aproveite’ a relação com todas as dinâmicas que dela fazem parte para se tornar mais consciente de si mesmo, das suas dificuldades, e não tanto das dificuldades do outro, como é comum acontecer.      
Uma relação é um ser vivo, proveniente de dois seres individualizados.
O ‘segredo’ da sua harmonia, não está tanto em evitar o conflito, mas sim em aprender a observá-lo, e a estar verdadeiramente disponível para aprender com ele.
Precisamos de reconfigurar as nossas relações, torna-las mais espirituais, menos egoícas. Para isto, é urgente integrar e aceitar que hoje, mais importante do que o que nós queremos para a nossa relação é aquilo que a nossa relação quer de, e para nós.
E, isto muda tudo. 


Atravessar a solidão ( Out 2012 )      

Porquê eu? Porquê isto? Porquê agora?
Mais do que o título de um livro da autoria de Robin Norwood, todos nós a determinada altura das nossas vidas, nos perguntámos o porquê de existirem no nosso caminho fases tão difíceis de ultrapassar, cuja a única vontade é eclipsarmo-nos para bem longe daqui, deixar passar o “ tormento” e regressar só depois de tudo já ter passado.
Como gosto de afirmar, mais do que as respostas que vamos obtendo na vida são as perguntas que nos fazem caminhar e ir descobrindo mais e mais sobre quem somos, o que queremos e qual é mesmo a nossa vocação (leia-se propósito) aqui na Terra.  
A vida não é madrasta e injusta connosco.
É tão generosa, como exigente, quando se trata dos anseios da nossa Alma, entre os quais o desapego que precisamos conquistar para nos libertarmos de tudo o que não é essência em nós.  
Para que isso aconteça é vital aceitar fazer um profundo processo de transformação. Durante o tempo necessário, (que não é o que nós queremos, mas sim o que precisamos), iniciamos um caminho normalmente solitário, que alguns descrevem como uma espécie de “travessia no deserto”.
Esta metáfora, representa uma imagem do nosso inconsciente, para a sensação que podemos ter de estar numa árdua caminhada, onde nos sentimos cansados, perdidos e expostos a condições climatéricas  adversas. Palmilhámos já dezenas de quilómetros, e a única paisagem que visualizámos foi areia escaldante de um deserto que parece não ter fim.
Como nem sequer colocamos a possibilidade de termos sido nós a fazer aquela escolha, é fácil revoltarmo-nos com a vida, apontando o dedo ao maldito do destino que parece mover-se na direção contrária ao que queremos, contrariando e amaldiçoando os nossos maiores desejos e expectativas. 

Atravessar o deserto é atravessar a solidão.
Requer rendição e coragem ao mesmo tempo.

Na verdade, a única forma de gerir esta caminhada é aceitar que ela está certa e que, no tempo exato vamos perceber o seu propósito nas nossas vidas.
Atravessar o deserto é atravessar a solidão.
Requer rendição e coragem ao mesmo tempo.
Resistirmos a esta travessia, só contribui para atrasar o processo e para o “não-cumprimento” do seu propósito em nós.
Aprender a estar só é vital para (re) encontro com a nossa essência. Não adianta fugir disto, pois mais cedo ou mais tarde esta é uma aprendizagem que precisamos realmente de fazer.

A ansiedade da companhia deixa-nos ainda mais sós
Se “estamos sós”, é porque ainda não sabemos estar acompanhados. Estar acompanhado é antes de mais “ser-se” a sua melhor companhia e muitas vezes só no limite da solidão é que percebemos que afinal estarmos connosco é muito mais reconfortante do que o nosso medo nos gritava que era. Percebemos que solidão e solitude são dinâmicas muito diferentes que em nada se confundem.
E, à medida que nos permitimos atravessar aquela sensação de nos sentirmos os últimos sobreviventes do planeta terra, vamos criando uma raiz profunda com quem somos verdadeiramente. Deixamos para trás a necessidade carente do outro, dando lugar a uma vontade genuína e sã de estar ao seu lado.
A ansiedade da companhia deixa-nos ainda mais sós.
Ficamos como peixes fora de água a querer respirar sem conseguir.
É preciso atravessar a solidão, para, antes de mais encontrar a nossa melhor companhia – nós mesmos. 





ARTIGO ZEN ( AGOSTO 2012)


Como podem homem e mulher voltarem a confiar um no outro?
Como podem criar laços de intimidade e de verdade a dois?
Desde que me lembro de “existir”, que estas questões me perseguem.
Foi por elas e com elas que a vida se atreveu a proporcionar-me experiências e mais experiências, para que as respostas que procurava pudessem surgir a partir da minha verdade interior e não de “teorias profundas” da psicologia, onde são sempre os paizinhos os responsáveis pela nossa falta de amor, de confiança e do nosso medo de crescer.  
Na inconsciente ânsia de perceber mais, aceitei entrar no laboratório da relação a dois, onde as reacções químicas rapidamente se fizeram sentir.
Anos de relações de mentira, de controlo, de ciúmes e de posse, onde a confiança não existia e onde a mentira era imprescindível para manter “vivas” relações mortas, enrugadas e secas, cujo caule era o grande medo de perder o outro. Verdadeiras batalhas campais, abusos físicos e verbais, que aos poucos me iam empurrando para fora de “quem-não-era” e ao mesmo tempo me faziam regressar homeopáticamente à minha verdadeira essência, onde sempre soube que o AMOR que partilho com o outro tem de ser baseado na liberdade de ser quem sou e na confiança de poder expressá-lo na vida e na relação.
Com este espaço, fui aprendendo a escutar mais a minha voz interior e menos os conceitos e “pré-conceitos” em relação ao que deve ser o AMOR, e as respostas foram-se tornando mais nítidas e mais verdadeiras.

Como poderão então, homem e mulher voltarem a confiar um no outro?
(Digo voltarem, porque acredito que algures na história, isto já foi possível)
Sem qualquer hesitação, hoje sinto que CONFIAR no outro, trata-se antes de mais de CONFIARMOS primeiro em nós e na vida. Sinto ainda, que uma relação de CONFIANÇA e de VERDADE é a única forma de criar laços profundos e verdadeira INTIMIDADE com o outro.
Para que isto aconteça é fundamental, libertarmo-nos de mitos e crenças, baseados no medo de perder, no medo de não sermos suficientemente “bons”, no medo de sermos “traídos”, no medo de partilharmos honestamente com o outro aquilo que verdadeiramente sentimos, por medo que ele não nos aceite.
Aprender e “arriscar” partilhar a VERDADE de quem somos, a VERDADE do que sentimos, a VERDADE das nossas escolhas, das nossas paixões, dos nossos apegos e desapegos. Aprender a aceitar e a respeitar a liberdade o outro, pois só assim também nós podemos ser livres.
É com INTIMIDADE e CONFIANÇA que surge o verdadeiro envolvimento. Aquele envolvimento que nada tem a ver com hormonas a tilintar e com o fogo da paixão que nos queima, sem que nunca com ele nos possamos aquecer. Só a verdadeira INTIMIDADE cria laços profundos e indestrutíveis. Laços que permeiam o tempo, o espaço e as circunstâncias.
Precisamos recuperar o AMOR. 
E, isso só será possível, construindo relações de profunda INTIMIDADE baseadas na VERDADE, onde a CONFIANÇA entre duas pessoas surgirá naturalmente, pois ambas sabem que não há nada a temer, nem nada a esconder.
Não será este o princípio da Liberdade e do AMOR?    



O CAMINHO DO DESAPEGO ( artigo Junho)


Sou apologista que as coisas verdadeiramente importantes da vida não se ensinam, aprendem-se. Tal como o AMOR também o DESAPEGO se aprende, não nos livros, mas nas experiências com que a vida nos vai trespassando, sempre que nos permitimos ser por ela trespassados.
Aprender o desapego, é duro mas profundamente iniciático.   
Se reflectirmos sobre a natureza e os seus ciclos, percebemos rapidamente que nada é fixo, tudo se renova constantemente e a transformação faz parte integrante da vida que nos rodeia. E, que diferença tem a vida que nos rodeia da vida que somos? Nenhuma.
Porque teimamos então na posse e no apego, se tudo dentro e fora de nós nos “monitoriza” para um fluxo livre de vida, impermanente e desapegado? 
Por medo, claro.
Cada apego nosso, mais cedo ou mais tarde, está condenado à cadeira eléctrica.
A nossa essência não tem qualquer dúvida sobre isto. A nossa personalidade tem.   
E, por isso, sente-se apavorada e obriga-nos a apegarmo-nos mais e mais, na ignorante e ingénua esperança de sermos imunes à impermanência da vida que como um lobo mau parece devorar-nos. Apegamo-nos a tudo, ofegantes de amor e segurança.
O verbo possuir em simultâneo ataca-nos e alicia-nos.
Numa espécie de parceria perfeita, tornamo-lo o objecto mais valioso a que temos direito se cumprirmos (de preferência por ordem cronológica) todas as “merditas” que nos disseram serem vitais : Curso, profissão, casa, marido e filhos ( um rapaz e uma rapariga já agora).
Quando finalmente temos tudo isto, mas ainda assim estamos vazios de vida, o melhor que encontramos para suprir o estado lastimável que nos arrasta é continuar a parceria , não largar nada, prender bastante, atar o marido ou a mulher à mesa, certificarmo-nos que também ela ou ele estão atados à porta, que por sua vez está atada à escada (afinal a escada também é nossa, ora bolas, pagamos o condomínio) e…quando estamos estupidamente estafados, com tudo o que “nos pertence” bem controlado…zás…a corda rebenta!
E porque será que ela rebenta?
Talvez para nos mostrar que podemos USUFRUIR de tudo, mas não podemos POSSUIR nada!
O apego tira-nos por completo a liberdade, e pode ter consequências catastróficas na nossa vida, principalmente quando nos apegamos a pessoas e usamos com elas a mesma password que usamos na vida em geral. Assim sendo, um dos terrenos mais férteis para trabalharmos no sentido do desapego, são sem dúvida as nossas relações amorosas. Aqui os grandes conflitos, causados pela posse, espelham-nos a cada segundo a nossa imbecilidade e ignorância, quando (ainda que de mansinho) decidimos que temos não só o direito, como também o dever de “algemar” o outro, para que seja para sempre nosso, molestando-o com os benditos ciúmes, medalhas de ouro, na arte que é chamar AMOR às nossas carências.
De ilusão em ilusão, de apego em apego, destruídos por dentro, vamos aprendendo a deixar ir aos poucos aquilo que sabemos só nos faz mal e ilude de segurança. Ao sermos obrigados a largar, vamos construindo uma identidade cada vez mais verdadeira e livre de apertos involutivos.
O DESAPEGO é fundamental na aprendizagem da VIDA e do AMOR.     
Quem AMA liberta, respeita o caminho e as escolhas do outro.
Quem se APEGA engana-se de AMOR.
Quem AMA jamais se poderá APEGAR. 

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Não há milagres de amor… 

Gosto de afirmar que até aprendermos o Amor vivemos num campo armadilhado. Este campo, cujas minas vamos pisando vezes sem conta, mostra-nos ao longo do nosso caminho, que as nossas relações amorosas, são uma das melhores formas que a vida encontra para “rebentar” com aquilo que de uma ou de outra forma não nos deixa evoluir.
Perfeitos barómetros interiores, são elas que aos poucos nos vão incapacitando para as ilusões que vamos criando, para os “filmes” que vamos fazendo e para as mentiras que a nós próprios vamos contando.
De dinâmica em dinâmica, entramos nesta espécie de “laboratório”, onde homeopáticamente somos convidados a perceber, entre outras coisas, que não existem milagres de amor, existem quando muito, amores que connosco fazem verdadeiros milagres.
E, um destes primeiros milagres é, sem dúvida o da transformação que acontece em nós, sempre que as nossas crenças e as nossas expectativas “esbarram” com a realidade que vivemos.

Crenças & Expectativas - Acreditava que…mas a vida mostra que…

Se acreditava que o casamento era “para sempre”, porque é que já vou no   
terceiro divórcio? Mas porque é que fui casar com um diabético(a) se para mim o(a) parceiro(a) ideal tem de se sentar ao meu lado ao serão a ver a novela e a comer bolos? Sempre acreditei que a mais pura forma de demonstrar amor era receber sms de manhã, à tarde e à noite, que maldição… porque é que o(a) meu(a) companheiro(a) se recusa a usar telemóvel? Sempre quis casar aos 21 anos, como a minha mãe e ponto final, sempre foi assim na família e não consigo perceber porque é que já vou fazer 40 depois de amanhã e… nem namorado tenho?
Mais do que as respostas, que freneticamente procuramos por todo o lado, são as perguntas resultantes das situações que atraímos que aos poucos nos vão fazendo separar o “ trigo do joio” ou seja, ajudando a diferenciar aquilo que acreditamos só porque “ sim”, daquilo que acreditamos porque é efectivamente verdade em nós.
Na vida não há “mas”, nem “ses”, tudo está absolutamente certo.
Não existem pessoas nem situações erradas, apenas pessoas e situações que nos mostram o quanto “ desviados” estamos do nosso propósito essencial – sermos realmente quem somos, no entanto esta tomada de consciência não é um acontecimento, nem algo que muda de um dia para o outro, mas sim um processo. Um processo onde o desapego é fundamental.
Quantas vezes nos recusamos a dar aquela peça de roupa especial, que não nos serve há anos, mas que guardamos religiosamente, para quando perdermos as “gramitas” que dela nos separam, a voltarmos a vestir?
Nem sequer paramos para pensar, que nos está a ocupar espaço no roupeiro e que talvez já tenha cumprido o seu propósito connosco.
O mesmo se passa com as nossas crenças. Apegamo-nos a elas e armazenamo-las mesmo que já não nos sirvam, com medo que nos façam falta, quando na verdade tudo o que precisamos é tão-somente de nos libertarmos delas. De igual modo, as nossas expectativas trazem-nos sempre grandes e dolorosas frustrações. Somos peritos em “ inventar” o outro, na ilusão de que aí reside a nossa segurança e mesmo quando a vida insiste em nos mostrar o contrário, nós resistimos, permanecendo rigidamente na nossa zona de conforto, apesar do desconforto e do “aperto” que nela já sentimos.

De sapos a príncipes, de “ metades” a inteiros       

Temos um dom especial para viver entre o passado e o futuro. Isto parece “sossegar” o medo que temos de usufruir em pleno do nosso presente, que não compactua com as nossas desesperadas estratégias de controlo, nem com sapos que nunca serão príncipes, belas adormecidas que já acordaram e medos absurdos de não encontrarmos a nossa “outra metade” e de permanecermos “ sozinhos”, apesar da vida já nos ter mostrado, a profunda dor que é a solidão na companhia e nos ter oferecido já, vislumbres de que o prazer verdadeiro da mesma só a solidão nos pode ensinar.
Somos seres condenados à liberdade, por isso, continuarmos presos a crenças, do que deve ou não ser uma relação amorosa, é continuar a permitir que a nossa vida esteja hipotecada a um banco que desconhecemos, com o qual nunca fizemos qualquer espécie de contrato e ainda assim pagarmos com veemência os altos juros que diariamente nos são debitados na conta.
O Amor aprende-se, não tenho dúvida.
Aprende-se quando deixamos ir o que já não nos serve. Aprende-se quando assumimos que a forma só nos “deforma” e deixamos que o conteúdo se revele. Aprende-se quando deixamos de querer “ metades” que nos faltam e passamos a querer ser “ inteiros” que nos somam. Aprende-se cada vez que nos deixamos fecundar pelas experiências e com elas deixamos de querer “ ser felizes para sempre”, percebendo que sermos felizes HOJE é mesmo o mais importante!  
_____________________________________________________________________ 
ZEN OUTUBRO


O Amor é abundante. Abre espaço para nos revelarmos ao outro e permite que em verdade o outro a nós se revele também.
Quando uma relação tem como base o Amor, DAR é RECEBER.
Desta forma, não há lugar para quantificações de quem dá mais ou menos, ou fitas métricas que meçam ao milímetro a entrega de cada um.
Quando numa relação isto acontece, não é de Amor que estamos a falar, mas sim de competição. Aqui um vencedor terá de existir,  logo um vencido também.
Esta luta de poder, empurra-nos para um campo armadilhado onde o ego  manda e comanda e nos faz posicionar na relação a partir do Medo e não do Amor. O medo, um dos melhores ilusionistas da história, misturado com anos e anos de crenças, iludem-nos que só devemos dar a quem nos dá e, se formos mesmo ‘bonzinhos’ nada como nem sequer querer receber nada em troca. Estas mentiras que contamos a nós próprios, abrem-nos a porta para um jogo claustrofóbico onde confundimos dar e receber, não percebendo que do outro, tudo o que queremos mesmo, não é dar, nem receber, mas sim OBTER. 

De coração fechado não podemos dar, nem receber só…obter

De coração fechado e desnutridos, fazemos da relação a dois uma espécie de bolsa de valores, onde o nosso investimento (dádiva) está directamente ligado às oscilações do mercado, ora em alta, ora em baixa.   
Criamos relações onde o outro nos serve apenas pelo que dele queremos obter e não pelo que estamos disponíveis para lhe dar.
Num profundo e árido egoísmo, acabamos arrastados por uma corrente de solidão, onde insaciados nada podemos receber, pois na realidade nada  damos verdadeiramente. Não existe reconhecimento do outro, apenas daquilo que dele obtemos. 
Sê o AMOR que queres receber
É preciso abrir o coração e mudar de posicionamento. 
Nada nos protege mais do que ter o coração aberto. Só através dele se operam milagres nas nossas vidas e nas nossas relações. Estarmos verdadeiramente disponíveis para dar ao outro, a partir da nossa essência, torna-nos permeáveis à abundância profunda do Amor.
Dar só se aprende dando. 
E, dando seremos o Amor que queremos receber do outro.  
Ao sermos este Amor, deixamos de querer OBTER, percebendo a cada minuto que AMAR é DAR e que DAR é receber.   
_______________________________________________________________________

ZEN ABRIL

Verdade e Liberdade a dois


Há questões que sempre me acompanharam ao longo da vida e uma delas é como poderão os casais viver as suas relações em verdade, liberdade e confiança. 
Pode até parecer simples (e provavelmente é), mas os relatos a que diariamente assisto mostram que estes ‘três-pontos’ são muitas vezes vividos pelos seus opostos - a mentira, a posse e a desconfiança.
Isto acontece, porque muitos de nós, nos relacionamos a partir do medo. Do medo de ‘perder’ o outro, no medo de sermos rejeitados, no medo de não correspondermos a uma ‘perfeição’ que nem nós próprios sabemos qual é. Porque temos tantas vezes dificuldade em expressar o que sentimos? Não será por medo de não sermos entendidos e aceites?
Quando nos aceitamos verdadeiramente com as nossas facilidades e dificuldades abrimos um campo de verdade interior, onde se vai tornando cada vez mais natural expressar os nossos sentimentos. É aqui que começa a verdade.
Viver em verdade numa relação com o outro, começa antes de mais por viver essa verdade em nós mesmos.  

Afinal com o que é que estamos verdadeiramente comprometidos numa relação? 
Nestes tempos de mudança, também as nossas relações estão a ser bafejadas pela urgência do ‘upgrade’ que a humanidade precisa fazer para subir a sua vibração colectiva.
As coisas já não são como eram, mas ainda não percebemos bem como virão a ser. No entanto existem paradigmas e crenças que nos enjaulam de tão forma, que a vida tem a bondade de nos ‘obrigar’ a deixá-las cair por terra, tal como um manto que largamos suavemente por dele já não precisarmos para nos aquecermos.
Destas ‘deformadas-formas’ está uma que é relatada com frequência nos grupos que coordeno e nos atendimentos que faço, e que se prende com aquilo a que chamamos compromisso.
‘Parece que hoje já ninguém quer compromissos’ – repete-se vezes sem conta, sem sequer ousarmos questionar o que isso significa mesmo.
Afinal com que é somos comprometidos numa relação? E se começássemos a abrir espaço para vivermos relações onde o único compromisso existente fosse o compromisso com a verdade e com a liberdade?
Certamente uma grande lufada de ar fresco entraria nas nossas vidas e as rupturas causadas pelos amontoados de mentiras que alguns casais coleccionam em baús fechados convencidos que o outro nunca irá saber, não percebendo porém que mais importante do que o outro saber ou não, é o facto de terem necessidade de esconder, terem medo de ser transparentes, terem medo de viver em liberdade. 
Quando a verdade afasta um casal, algo neles está já realmente muito afastado.
Não vale a pena mentirmos a nós mesmos e continuarmos a misturar ‘conceitos’, como se misturam ingredientes numa tigela, continuando a confundir verdade com omissão, liberdade com libertinagem ou individualidade com individualismo. As coisas são o que são. Não o que queremos que elas sejam.  

Verdade para que te quero?
Acredito que para que um dia haja Paz na terra, é preciso que aquilo que nós chamamos Amor seja absolutamente reconfigurado e que a Transparência, a Verdade e a Confiança sejam o maior compromisso entre as pessoas.
Só assim se poderá abrir um espaço sagrado nas relações e reforçar laços, que por serem verdadeiros, serão indestrutíveis e eternos.
E, isto sim é AMOR.



ZEN FEVEREIRO 2012

Ultrapassar as coisas que nos magoaram numa relação



As rupturas, regra geral são processos dolorosos por acarretarem, quase sempre, grandes e bruscas mudanças nas nossas vidas. Coladas a estas mudanças (cujo propósito não entendemos de imediato), estão intermináveis listas de ‘coisas’ que o outro nos ‘fez’ e que nos magoaram profundamente. 
Acreditamos assim, que é ele(a) o responsável por tudo aquilo que estamos a passar e armazenamos como troféus quilos de ressentimentos e raivas contra aquele que elegemos como único e total responsável pela nossa dor. Acontece que, numa relação ninguém é responsável pela dor de ninguém. Tudo o que nos magoou, foi exactamente aquilo que precisava em nós de ser magoado para ser entendido e integrado. 
Na verdade, aquela pessoa que pensamos nos ter feito tanto mal, foi tão-somente alguém que a vida colocou no nosso caminho para que através dele, possamos entender e transformar aquilo que em nós ainda precisa de transformação. Assim, mais do que, nos desgastarmos a questionar o que quisemos nós dessa relação, é fundamental perceber o que quis essa relação de nós. Para quê guardarmos no baú ressentimentos e mágoas do que não correu bem, se podemos ‘usar’ tudo o que vivemos para aprender um pouco mais sobre quem somos?  

Transcender a dor – Um processo de aceitação e desapego 

Ultrapassarmos o que nos magoou é antes de mais, confiarmos que tudo o que nos acontece tem um propósito e um significado nas nossas vidas, mas que só no tempo exacto saberemos quais. De nada serve, perguntarmos dias seguidos o porquê daquilo ser assim, pois até estarmos preparados para saber, temos um longo caminho pela frente. A primeira etapa desse caminho é a aceitação da dor e o desapego a essa mesma dor. Não adianta agirmos como se não a sentíssemos, pois isso não é sinónimo da sua ausência. Não adianta fugir dela, querendo ‘animar’ em nós o que ainda está ‘desanimado'. Só a ultrapassamos, se a soubermos transcender. E, para isso é preciso vivê-la, senti-la até ao fim para poder esgotá-la. Só depois de esgotada estamos prontos para entender e integrar o que com ela aprendemos e transformámos. Como tudo na vida, a dor também passa. Mas, se por um lado queremos que se vá embora depressa, por outro apegamo-nos a ela permitindo que em nós se instale um profundo sofrimento, fruto de nos mantermos nesse registo para além do prazo de validade que nos é concedido. Resumindo, o sofrimento resulta do nosso apego e ao contrário da dor, é opcional. É o sentimento de posse que nos leva a querer mantê-la, muitas vezes com a ilusória esperança, de que se ela se mantiver viva, o ‘outro’ também se manterá. É o desapego que nos liberta da prisão das ilusões e das mentiras que contamos a nós próprios. 
Desapegar-se é deixar ir, sentindo e aceitando o que se sente. É ter a coragem de parar e deixar que a vida siga o seu fluxo natural, baixando os braços, ‘não-mais-insistindo’ ou investindo em nada que prenda ou nos prenda àquela situação. No inicio deste processo somos confrontados com uma grande falta de entusiasmo, de convicção e até de sensação de perda de identidade. A passividade dói-nos e parece não pacificar o que sentimos. Afinal os nossos valores ainda eram precários e há que dar tempo ao tempo, para que com tempo cheguem as respostas.  

O fim da relação não é o fim do amor - Quando verdadeiro o Amor não tem como acabar 


O facto de a relação ter terminado e de nos sentirmos magoados com situações que nela vivemos, não significa que o Amor que nela partilhámos tenha também ele tido o seu fim. O Amor é eterno, não tem rupturas. A questão é que chamamos muitas vezes Amor às nossas carências e quando assim é, normalmente as relações terminam da pior maneira, com acusações e ressentimentos mútuos, o que nos revela que o Amor não está, e provavelmente nunca esteve verdadeiramente presente. Quem um dia em verdade amámos, nunca poderemos deixar de amar. E, Amar é respeitar as escolhas do outro, não o querer possuir, não o responsabilizar pelas nossas dores. Quem ama sabe que a determinada altura da relação ambos poderão ter de viver outras experiências com outras pessoas e que apesar de isto pode significar o fim da relação, não significará nunca o fim do Amor. A relação é no fundo o teste que aceitamos passar para percebermos o quanto vibramos na energia do Amor. 

A vida continua…é preciso ir fertilizando o coração


Indiferente aos nossos processos, parece estar a vida, que continua a vibrar em nós e a convidar-nos à transformação, mostrando-nos que se nela confiarmos tudo o que precisamos para crescer, nos será gentilmente oferecido. Se a dor que experienciámos foi aprendida e integrada, um dia voltaremos a estar disponíveis para uma nova relação. Para isso, e até lá, precisamos de ir fertilizando o nosso coração, respeitando o mais possível o que sentimos, passando muito tempo na nossa companhia, dando amor a nós mesmos e aos que nos rodeiam, valorizando o que temos em detrimento daquilo que ilusoriamente pensamos que nos estar a faltar. E, de processo em processo, de relação em relação é nos dada a possibilidade de irmos aprendendo o Amor. 
Aceitá-la ou não é connosco. 
Afinal a vida é simples, são apenas escolhas.

Sem comentários:

Enviar um comentário