Percebi agora, que desde que ficaste doente, nada publiquei aqui no Blog...
Acabaste por partir...voltei aqui para escrever...
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Paizinho,
Ainda
me custa a acreditar que o teu corpo já não está entre nós.
Dizem
os ‘entendidos’ que é mesmo assim…a negação chega em primeiro lugar e
sobrepõe-se à realidade que é vermos partir quem amamos.
Confesso,
que não lhe chamo negação, mas sim apego.
O
apego que me faz querer ouvir o telefone tocar, o apego que me faz querer
almoçar ou jantar contigo, o apego que me empurra para a (in)verdade que é,
acreditar que pode existir vida sem morte e morte sem vida.
Contrariando
a ordem natural de todas as coisas, ensinam-nos que a morte é algo trágico.
Em
crianças privam-nos de ir a velórios (ainda que sejam dos nossos avós),
dizem-nos que o preto é a cor da tristeza, e até que há que vestir muito quando
alguém próximo de nós morre, quando, meu pai, a morte nada mais é, que a
passagem para uma nova vida, a abertura de um novo portal, uma imensa e profunda
purificação dos nossos egos cansados de tanto controlar.
Viveste
uma vida repleta de vida. Tristezas, alegrias, frustrações, ilusões, momentos
de derrota e de glória. Escreveste um livro, plantaste uma árvore, foste pai de
três filhos e de uma cadela que honraste como ninguém, e que sei sentirá muito
a tua ausência física.
Muitos
desses momentos, tive a honra de teres partilhado comigo.
Foi
neles que te conheci recantos muito sensíveis e humanos, incrivelmente
inspiradores, que me empurraram desde criança, para uma reflexão continua sobre
a existência, o sentido da vida, e me ensinaram a não me contentar com o que é
“normal”…
Cedo
percebi, que não sofrias da pior doença do século – a “normose”, ou seja ser
“nomalzinho”, representando a vida por ordem cronológica como ditam as regras.
Tu,
realmente não ias para onde todos iam, não fazias o que todos faziam, não dizias
o que todos diziam, só porque sim… eras tu próprio e permitiste-me, a mim e aos
meus irmãos sermos nós próprios também!
Deixaste-me
assim o maior legado que se pode deixar a um filho – a certeza de que só a vida
nos ensina o que precisamos de aprender.
Talvez
por isso, não tiveste a pretensão, de me quereres ensinar, mas sim a coragem de
permitires que fosse eu a aprender! E, isto meu pai, fez toda a diferença no
meu caminho.
Soubeste apertar-me o
menos possível, mimando-me o mais que pudeste.
Amo-te, Paizinho.
Ontem, foi um dia triste.
O apego quis falar mais
alto.
Escutei-o sem o mandar
calar.
Despedi-me do teu corpo, mas
não de TI.
A tua alma seguirá o seu
caminho na luz e juntos continuaremos a seguir o nosso, agora de uma outra
forma.
A morte não é o fim.
Porque quem vive em nós,
não tem como morrer!
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