quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

MILAGROSAS RECEITAS ( Espiritualidade Fast-Food)

Como já vai sendo hábito hoje ao abrir o email, encontrei-o a transbordar da mais variada informação, toda ela com um denominador comum – a promessa de mudança garantida, através de consultas, contacto com médiuns, hipnoses relâmpago, workshops e afins.
De imediato lembrei-me que apesar de ser do conhecimento geral, que ingerir ‘fast-food’ só engorda, não alimenta, alguns ainda optam por ingerir este tipo de refeição, na ilusória ’certeza’ que empanturrar o estomago daquilo até se sentir enfartado é sinónimo de estar…nutrido.
Mas, como dizia a minha avó, cada Um sabe de si, Deus sabe de todos J
Cabe realmente a cada Um, escolher o seu alimento e sobre isso não tenho nada a dizer.
Apeteceu-me no entanto escrever, pois da mesmíssima forma que duvido da qualidade ‘fast-food’ , duvido de mudanças bombásticas, que não implicam caminho, processo e claro está transformação.
Considero-as doenças crónicas, a que muitos se sujeitam, picando como pica-paus aqui e ali na esperança de encontrarem fora o que recusam procurar dentro.     
Transformar-se é um processo alquímico e não uma receita milagrosa.
Esta alquimia requer trabalho interior (o que dá trabalho, claro está!) e talvez por isso é com indignação que observo estas corridas desenfreadas à toma rápida de ‘pilulas-espirituais-pseudo-esotéricas’ capazes de atordoar apenas num fim-de-semana, qualquer vazio existencial.  
Na verdade, o workshop mais completo que devíamos aceitar participar é o da própria VIDA, que com as suas desafiantes e tantas vezes dolorosas experiências nos amadurece, humaniza e transforma.
Este sim, capacita-nos aos poucos a lidar com a nossa mais ínfima fragilidade mostrando-nos que nela reside a nossa força maior.
Força telúrica, capaz de revelar o pin de acesso ao mais nosso mais profundo interior, dotando-nos através das experiências, duma profunda e constante resiliência, vital neste caminho de Vida na Terra.    
Repleta de magia, mas sem receitas mágicas, ensina-nos a atravessar processos e mostra-nos com sabedoria a verdade que neles está contida.
No seu natural e perfeito equilíbrio, o preço que nos cobra não é alto, baixo, ou negociável sequer, mas justo para o que temos de transformar.      
Tira-nos da cadeira da sala para o imenso trilho da Vida.
Eleva percepções, revela simplicidade e verdades contidas na sacralidade que aos poucos vamos resgatando no nosso coração.
Esse sim, capaz de nos aconchegar e dar abrigo, quando o caminho que aceitamos trilhar se torna frio e desabrigado.
Tal como a árvore, não se chega ao céu sem ousar descer à terra.
Crescer é transformar-se.
Transmutar o metal vil da nossa consciência adormecida, em puro Ouro, resultante da integração plena das vivências que ousámos experienciar.
Isto requer tempo e trabalho interior.
Crescer à força, com base de ‘adubos rápidos’ é engordar por fora, mas adoecer por dentro.
A vida é dinâmica, por isso é preciso morrer para nascer de novo vezes sem conta.
Só assim se cumprem os ciclos.
Só assim se aprende.

Só assim se VIVE.        

1 comentário:

  1. Concordo em pleno e assisto de forma impotente... muito grata querida Cristina por uma vez mais descreveres de forma tão maravilhosa aquele que é também o meu sentir diário, perante o que vou assistindo, seja por parte de terapeutas e facilitadores que anunciam esses 'milagres' seja por parte daqueles que os consomem continuando a viver na sua plena 'ilusão' de que só por isso - tudo está bem! Beijinho de coração e o desejo duma linda época para ti de 'morte e renascimento', até já - Laura

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