Hoje
no meio das arrumações, que escolho fazer normalmente nesta altura do ano, dei
conta da quantidade de papéis que fui acumulando nestes ultimo anos. Manuais de
formações, apontamentos, cartões e mais cartões, comprovativos de IRS de, imaginem
só, ano 2000 J Enfim, papéis e mais papéis que me fazem andar para trás no
tempo e recordar tantas pequenas-grandes coisas-com-que-a-Vida-me-foi-abençoando.
Nesta
viagem intemporal, foram dois dias marcados pelo tempo dos homens que passei
profundamente ligada a mim e a tudo o que fui (re)encontrando.
Muita
coisa escrevi, quem sabe na expectativa que a cumplicidade que tenho com a
caneta e com o papel minimizasse processos nem sempre fáceis pelos quais
passei, especialmente quando vivi em São Miguel.
Curiosamente
soube-me bem rasgar aquelas dezenas de papéis, desabafos sofridos da profunda solidão
que atravessei, num deserto de mentiras compulsivas, que hoje sei fertilizaram
ainda mais a minha incondicional e una parceria com a VERDADE.
Apesar
do tempo ser um grande escultor, como dizia Fernando Pessoa, talvez a grande
escultura interior tenha começado a acontecer no momento em que deixei de rejeitar
os processos e me permiti ser “esculpida-pelas-feridas” que estes pareciam ter
deixado.
Na
altura, tinha a certeza de ter perdido tudo. Até a esperança.
Hoje
sei, que todas as perdas tiveram ganhos fabulosos associados.
Um
deles, foi sem dúvida o de viver em VERDADE escolhendo partilhar a minha vida com
quem a respeita tal como eu.
Outro,
o de “ rasgar-o-passado ”sem mágoas, percebendo com distanciamento e lucidez
que a Vida quis mesmo o melhor para mim.
Afinal,
o que são as memórias senão a fórmula mágica que a Vida usa para nos relembrar
que tudo passa, excepto o que em nós ficou como aprendizagem.
Essa,
sim não há como “rasgar”.
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