quinta-feira, 21 de agosto de 2014

RASGAR O PASSADO

Hoje no meio das arrumações, que escolho fazer normalmente nesta altura do ano, dei conta da quantidade de papéis que fui acumulando nestes ultimo anos. Manuais de formações, apontamentos, cartões e mais cartões, comprovativos de IRS de, imaginem só, ano 2000 J Enfim, papéis e mais papéis que me fazem andar para trás no tempo e recordar tantas pequenas-grandes coisas-com-que-a-Vida-me-foi-abençoando.
Nesta viagem intemporal, foram dois dias marcados pelo tempo dos homens que passei profundamente ligada a mim e a tudo o que fui (re)encontrando.
Muita coisa escrevi, quem sabe na expectativa que a cumplicidade que tenho com a caneta e com o papel minimizasse processos nem sempre fáceis pelos quais passei, especialmente quando vivi em São Miguel.
Curiosamente soube-me bem rasgar aquelas dezenas de papéis, desabafos sofridos da profunda solidão que atravessei, num deserto de mentiras compulsivas, que hoje sei fertilizaram ainda mais a minha incondicional e una parceria com a VERDADE.
Apesar do tempo ser um grande escultor, como dizia Fernando Pessoa, talvez a grande escultura interior tenha começado a acontecer no momento em que deixei de rejeitar os processos e me permiti ser “esculpida-pelas-feridas” que estes pareciam ter deixado.
Na altura, tinha a certeza de ter perdido tudo. Até a esperança.
Hoje sei, que todas as perdas tiveram ganhos fabulosos associados.
Um deles, foi sem dúvida o de viver em VERDADE escolhendo partilhar a minha vida com quem a respeita tal como eu.
Outro, o de “ rasgar-o-passado ”sem mágoas, percebendo com distanciamento e lucidez que a Vida quis mesmo o melhor para mim.  
Afinal, o que são as memórias senão a fórmula mágica que a Vida usa para nos relembrar que tudo passa, excepto o que em nós ficou como aprendizagem.

Essa, sim não há como “rasgar”. 

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