Cada vez mais me convenço que há casais que têm uma espécie de
acordo secreto para se ‘enganaram’ mutuamente. Percebem que existem questões
entre eles que estão a ofuscar diariamente a relação, mas optam por nada partilhar
um com o outro, mantendo aquela rotina seca e desprovida de afectos, fingindo
cada um ser muito feliz, apesar de ambos saberem o contrário.
No entanto, há sempre um dia para tudo.
E, como numa relação saudável, mais do que as semelhanças são
as afinidades que criam harmonia, quando estas não existem, ao entrar em
desacordo, o casal acciona todos os seus mecanismos de defesa, que até à
data estavam reprimidos e trancados na sala escura dos seus egos. De repente estes mecanismos ganham vida própria, empurrando-os para um campo de
batalha, onde prontos para a luta escolhem as suas posições de ataque, para frente ao parceiro(a) sairem vencedores..
A primeira delas é a crítica.
Como estamos em
competição (quando na verdade devíamos estar em cooperação) e como eu no fundo
me sinto inferior a ti, até porque como não há entendimento genuíno entre nós,
mas eu não quero assumir isso, é mais fácil então superiorizar-me,
criticando-te em vez de escutar as razões pelas quais não estás de acordo
comigo.
Tudo o que fazes e dizes não faz sentido, está mal e eu faria certamente melhor. .
No entanto , poderemos escolher outra posição .
A segunda, a do desprezo.
Como me sinto ferido(a) com a nossa falta de diálogo e
engasgado(a) com tanta coisa para dizer, então vou fingir-me indiferente e por
isso desprezo-te. Quero lá eu saber
do que tu sentes, pensas, fazes ou és. Não estares de acordo comigo, é-me
indiferente. E tu vais senti-lo.
Ainda assim, se não resultar posso tentar outra posição.
A terceira, a da manipulação.
Como estamos em competição, e eu não gosto de perder nem a
feijões, vou convencer-te que o que pensas está errado, apesar de fingir que não
me estou nas tintas para o que sentes ou queres para a tua vida. Afinal, sou obcecado(a)
pelos meus dramas, sou um(a) umbiguista militante e sei que vais entender que
tenho razão. Se não for hoje, voltarei à carga até perceberes o cerne da
questão.
Caso não entendas, escolherei para a próxima outra posição no
campo de batalha.
A quarta, a defensiva
( vitima).
Podes falar à vontade
que não me magoas mais. Já chega. Nada resulta nas nossas conversas. Nunca
estás de acordo comigo. Já me fizeste tantas, mas tantas que fiquei imune às
tuas manias. Quando me perderes é que vais ver o que custa. Queres ter razão
então fica com ela, quero lá eu saber. Afinal nunca me fizeste feliz.
E…a frase final
sintetiza tudo que o acordo secreto optou por manter fechado.
A verdade é que o outro não escutou, e pior ainda é que quem verbalizou, esqueceu-se de imediato do que disse.
A verdade é que o outro não escutou, e pior ainda é que quem verbalizou, esqueceu-se de imediato do que disse.
Assim sendo, de
posição em posição se protelam desacordos e se desgastam relacionamentos. Se observarmos
esta dinâmica geometricamente, perceberemos que para sair da quadratura, precisamos
agir duma forma mais circular, mais una, mais transparente.
Ter consciência que
brincamos aos jogos psicológicos e que muitas vezes neles estamos viciados é um
bom começo.
Agir com o outro, como gostaríamos que ele(a) agisse connosco
também pode dar jeito. :-)
E, por último perguntarmos com honestidade porque queremos nós chegar a um acordo sobre
uma determinada questão?
Se a sua resposta foi, “para haver entendimento”, relembro-lhe
que para que isso aconteça é preciso intimidade.
E, intimidade não é despir-se em
frente do seu companheiro(a), mas sim sentirem-se nus um com outro, pois só isso pode anular qualquer acordo secreto que guardem
nas profundezas dos vossos egos.
Só isso pode nutrir verdadeiramente a vossa relação.
Só isso pode levar-vos ao verdadeiro acordo, mesmo se ele for "desacordante".
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