Hábeis formas de manter activos os nossos sacos lacrimais, os
estrondosos sucessos de bilheteira onde as histórias de Amor impossível eram o
principal enredo são ainda hoje por nós vividos, não só através de filmes ou
telenovelas, mas, principalmente através da novela que é a nossa própria vida
no que diz respeito às nossas relações e áquilo a que teimamos em chamar Amor.
No ecrã, os envolvidos de tudo fazem para estarem juntos, só que depois,
ou por causa de um ser rico e outro pobre, ou por causa da mãe, do pai, do
sobrinho ou da prima não levam aquele Amor pra frente ficando para o resto das
suas vidas amargurados de morte, com um eterno e estonteante zumbido nos
ouvidos, a ecoar o nome do amado(a) que se espera um dia voltar a
(re)encontrar. Claro que, com um bocadinho de sorte e um valente empurrão do guionista (que quer
subir ainda mais as audiências) pode ser que a coisa resulte num esperado,
suado e muito desesperado “final feliz”.
Prova disto, são histórias como, Romeu e Julieta, dois adolescentes “cuja-morte-por-amor”
acaba por unir as famílias, Tristão e Isolda, “aquele-amor-trágico-medieval”,
até aos “nossos” D.Pedro e Inês de Castro, onde a
“impossibilidade-do-amor-impossível”, foi ao ponto de D.Inês ser assassinada,
levando D.Pedro a coroá-la rainha mesmo depois de morta.
Conseguimos perceber então, que ao longo dos tempos, aquilo a que se
chamava Amor, foi invadido duma crença (que virou arquétipo, ou de um arquétipo
que virou crença, vá-se lá saber!), revelando com toda a certeza, que por maior
que seja o Amor que une duas pessoas, o destino às vezes é cruel e parece não
querer que haja um… final feliz”.
Assim se casaram, sem impossibilidade e sem acordo pré-nupcial, duas grandes ilusões, que
iriam marcar epidermicamente, de uma ou de outra forma, cada um de nós.
A primeira, que pode haver uma séria e real impossibilidade no Amor.
A segunda, que no Amor existem finais felizes.
As duas juntas? Imaginem o resultado. :-)
O resultado tem resultado, na baralhação da verdade que a nossa alma
quer a todo o custo revelar.
Se observarmos e sentirmos a natureza, percebemos que a vida é um eterno
fluxo, que nos traz-e-leva de vida-em-vida, sendo o Amor a nossa maior dádiva.
Quando alguém que amamos não mais está presente fisicamente, por uma
determinada ‘impossibilidade’ - porque desencarnou, porque sentiu necessidade
de não mais estar ao “nosso-lado”, escolheu partilhar a sua vida com outra
pessoa e por isso já não o faz connosco, isso não é sinónimo de
“impossibilidade-do-Amor”, mas sim da “não-possibilidade” de continuar a
relação. O que são coisas totalmente diferentes.
Confundi-las, confunde-nos e atrapalha em nós a verdadeira essência do
Amor.
A impossibilidade da relação não é a impossibilidade do Amor.
O Amor é eterno e eterniza em nós quem amamos. Torna próximo, quem
aparentemente parece estar distante. Torna presente, apesar de ausente. Não é
uma resposta ao Amor do outro, mas sim uma expressão do nosso próprio Amor.
Já as relações são outra história. Na relação com o outro e
principalmente se estamos a falar de relações, onde os jogos psicológicos são a
tónica dominante, as ‘impossibilidades’, sempre criações e escolhas nossas, reforçam as nossas
crenças “onde-o-não-ser-possível” é o
maior sinónimo de “que-grande-amor-este”.
Assim, inconscientes e inspirados pelo arquétipo
Romeu-Julieta-D.Pedro-D.Inês-e-por-aí-fora, arranhamo-nos pelo cheirinho doce
duma luta contra tudo e contra todos, onde o Amor por ser tão forte, certamente
vencerá.
Quem não gosta afinal duma boa
impossibilidade para o desafio parecer ainda muito maior?
Só que o Amor não precisa de desafios e muitas vezes é o medo que
temos da impossibilidade de determinada relação 'funcionar', que a impossibilita realmente.
As relações servem para nos conhecermos melhor através do outro, por
isso nos vamos encontrando e desencontrando, dependendo das aprendizagens que
tivermos de fazer.
Ao desencontro, gostamos de chamar impossibilidade.
Dolorosa impossibilidade de Amar aquela pessoa.
Mas…o verbo Amar não tem passado.
E se um dia amámos, continuaremos a Amar.
No Amor não há rupturas, nem impossibilidades.
Pois ele é o que nós somos e não o que temos.
Talvez a nossa MAIOR POSSIBILIDADE na vida seja tão somente aprender a AMAR.
Para isso DESAPEGEMO-NOS daquilo que o Amor não é.
O Amor, quando verdadeiro é o mais possível, possível.
E, se nele existe alguma impossibilidade, essa é a de ter qualquer
final que seja.
Ainda que seja um “final feliz”.
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