Minha amada
Constança, hoje vóvó viveu uma das melhores tardes da sua vida. Decidi falar-te
dela, pois sei que assim perceberás porquê.
Sabes, o tempo
dos homens - aquele que nos atravessa a pele, fazendo-nos acreditar que a vida
é só o que vemos e nada mais - esse tempo, dizia eu, vai retirando de nós a ignorância de darmos
importância aquilo que não a tem, e ao mesmo tempo vai nos abençoando com a
verdade do que é realmente essencial.
O corpo
envelhece, para a alma poder engrandecer.
Curioso, não
é?
Esta nossa
alma que precisa engrandecer, começa finalmente a ocupar lugar dentro de nós e
com ela de mansinho acontece aquilo que a vóvó gosta de chamar, o poder da
magia das pequenas coisas.
Como irás
perceber ao longo do teu caminho, este poder mágico surge sem aviso prévio,
como aliás acontecem, quase sempre as coisas mais marcantes da nossa vida.
Hoje, ambas
fomos por ele bafejadas.
Fui buscar-te
à escola bem cedinho, estavas tu ainda a lanchar.
Assim que me
viste entrar, pude saborear a tua alegria e maravilhar-me contigo a devorares o
iogurte, que há muito sabes comer sozinha.
Levantaste-te
rapidamente, entregando-me a colher, como se de uma medalha se tratasse, para
que fosse eu a dar-te o resto.
A simplicidade
misturou-se com o prazer e magia fazia já parte de nós.
Caminhámos
até ao bengaleiro e ao vestir-te o casaco o nosso olhar tocou-se com ternura,
exalando um brilho profundo, que só a alma sabe decifrar.
Naquele
exacto momento, soubemos mais uma vez, que existe um mundo só nosso e que os (re)encontros
na terra, são obra prima sagrada, que a mente jamais decifrará.
De mãos
dadas, lá fomos felizes para o carro.
Ao sair do
estacionamento, olhei-te pelo retrovisor e senti-me invadida pela tua pureza. Inspirei e de mim saiu a voz do
amor terno de uma avó.
- Filha,
queres ir ver os patinhos?
Ainda a frase
não tinha terminado, já estavas a entoar um gritante “ siiiiiiiiiiiimmmmm”...
Vóvó, que é
uma mulher de olhos molhados, não resistiu a umas dezenas de pestanadelas, na
esperança de não se afundar de repente na emoção da simplicidade daquele mágico
momento.
O jardim
estava mais bonito que nunca. Os cheiros do Inverno, misturados com os tons
pastel das folhas no chão, ampliaram a magia e tudo era absolutamente perfeito
naquele momento.
Os patinhos
pareciam estar à nossa espera e a forma como nos receberam foi tão, mas tão
maravilhosa que as palavras jamais terão poder de interpretar ou definir.
Sabes, Constança
o verdadeiro poder das coisas não pode ser definido ou interpretado, apenas
vivido, experienciado.
Não reside na
nossa imaginação, mas sim na coragem que temos de fazer acontecer magia. Magia
esta que contém poder capaz de nos ampliar, nos tornar mais unos, mais sábios,
mais felizes.
O poder da
magia das pequenas coisas.
No fundo, minha
amada, o magistral poder do AMOR.
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