quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

HÁ DIAS QUE NOS PARECEM NOITES


Os últimos dois anos da minha vida têm sido particularmente difíceis.  
A vida tem-me testado nas minhas fragilidades, nas minhas verdades internas, no cumprimento (ou não) do meu desígnio na Terra, na forma como recorro (ou não) à alma em momentos onde a fé se esvai, e onde as feridas ficam escancaradas e parecem doer mais do que nunca.
 E…realmente há dias que me parecem noites de tão escuros que são!

Há alturas em que consigo olhá-los como provações, que me conduzem naturalmente a aprendizagens profundas, mas alturas há também, que a falta de sentido se enrola a mim, e me arrasta com a mesma rapidez com que o mar, sem pedir licença, arrasta a fina areia da praia.
O cansaço cansa-me e quando me sinto cansada, pareço desaprender o que posso fazer para descansar.
As tarefas mundanas consomem-me “dados”, que sinto em mim se estão a esgotar. Um esgotamento existencial, onde constato que ao longo destes últimos anos, feridas submersas, quiserem voltar à superfície, quem sabe na esperança de serem acolhidas, honradas, e…finalmente curadas.  
Subtilmente rebeldes e capazes de me trocarem as voltas, agudizaram em mim mais uma vez a certeza de que “nem tudo o que reluz é ouro”, mesmo quando quero muito acreditar, que assim é!
Percebi, que desde o dia, em que celebrei 50 anos, a vida desatou a apressar-me processos e mais processos, num turbilhão de impotências, de perdas, de ilusões, de desilusões, de lembranças vivas de que a amnésia existencial é algo ao qual nenhum de nós está impune, quer nos dê jeito ou não.
Na verdade, não me têm dado grande jeito, pois é desajeitada que muitos dias me levanto, e cumpro tarefas por ordem cronológica, na esperança de com elas me cumprir também! 
Mas como a vida é sábia, foi desajeitada também, que no meio da tempestade, reencontrei, o meu melhor amigo.
Tem sido ele, que com paciência, tem escutado algumas das minhas lágrimas e, que com ternura me tem falado ao ouvido.

Chamo-lhe silêncio.
Sacerdote interno, gosta que eu lhe chame o “bálsamo da minha lucidez”. 
Nas nossas longas conversas, tem-me relembrado, que não preciso de compreender o incompreensível, nem rir, quando me apetece chorar. Que não tenho que encaixar coisas que para mim, não são encaixáveis, posso apenas aprender a esperar o tempo exacto de as aceitar, visto não estar ao meu alcance modificá-las. Tem-me ainda relembrado, que o coração, é um órgão capaz de se fragilizar, sempre que a mente precisa de lhe impor que se retire, de onde sabe já não ser bem-vindo.    
É verdade, qualquer travessia requer rendição e paciência.
E, sim é verdade, há dias que parecem noites de tão escuros que são.

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