Os
últimos dois anos da minha vida têm sido particularmente difíceis.
A
vida tem-me testado nas minhas fragilidades, nas minhas verdades internas, no
cumprimento (ou não) do meu desígnio na Terra, na forma como recorro (ou não) à
alma em momentos onde a fé se esvai, e onde as feridas ficam escancaradas e
parecem doer mais do que nunca.
Há
alturas em que consigo olhá-los como provações, que me conduzem naturalmente a
aprendizagens profundas, mas alturas há também, que a falta de sentido se
enrola a mim, e me arrasta com a mesma rapidez com que o mar, sem pedir
licença, arrasta a fina areia da praia.
O
cansaço cansa-me e quando me sinto cansada, pareço desaprender o que posso fazer
para descansar.
As tarefas
mundanas consomem-me “dados”, que sinto em mim se estão a esgotar. Um
esgotamento existencial, onde constato que ao longo destes últimos anos,
feridas submersas, quiserem voltar à superfície, quem sabe na esperança de
serem acolhidas, honradas, e…finalmente curadas.
Subtilmente
rebeldes e capazes de me trocarem as voltas, agudizaram em mim mais uma vez a
certeza de que “nem tudo o que reluz é ouro”, mesmo quando quero muito
acreditar, que assim é!
Percebi,
que desde o dia, em que celebrei 50 anos, a vida desatou a apressar-me processos
e mais processos, num turbilhão de impotências, de perdas, de ilusões, de
desilusões, de lembranças vivas de que a amnésia existencial é algo ao qual
nenhum de nós está impune, quer nos dê jeito ou não.
Na
verdade, não me têm dado grande jeito, pois é desajeitada que muitos dias me
levanto, e cumpro tarefas por ordem cronológica, na esperança de com elas me
cumprir também!
Mas
como a vida é sábia, foi desajeitada também, que no meio da tempestade, reencontrei,
o meu melhor amigo.
Tem
sido ele, que com paciência, tem escutado algumas
das minhas lágrimas e, que com ternura me tem falado ao ouvido.
Chamo-lhe
silêncio.
Sacerdote
interno, gosta que eu lhe chame o “bálsamo da minha lucidez”.
Nas
nossas longas conversas, tem-me relembrado, que não preciso de compreender o
incompreensível, nem rir, quando me apetece chorar. Que não tenho que encaixar
coisas que para mim, não são encaixáveis, posso apenas aprender a esperar o
tempo exacto de as aceitar, visto não estar ao meu alcance modificá-las. Tem-me
ainda relembrado, que o coração, é um órgão capaz de se fragilizar, sempre que
a mente precisa de lhe impor que se retire, de onde sabe já não ser bem-vindo.
É
verdade, qualquer travessia requer rendição e paciência.
E,
sim é verdade, há dias que parecem noites de tão escuros que são.
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