terça-feira, 3 de novembro de 2015

OS ‘OUTROS’ SOMOS NÓS

Quando pensamos que há certas coisas que só acontecem aos outros e de repente percebemos com dor, que estamos nós a passar pelo mesmo, aprendemos uma grande lição – não há ‘outros-nenhuns’.
Os outros somos nós.
Após esta derradeira aprendizagem, seguem-se milhares de tantas outras.
A aceitação, a lucida e real solidariedade pelos ‘ditos-outros’, que pensámos nunca poder Ser é uma das mais desafiantes.
Deixar de questionar e tão-somente aceitar.
Depois vem a força da oração e o teste profundo à nossa Fé. Intermitente segue-se-lhe a esperança.
Uns dias forte, edificada, irrebatível.
Outros tímida, ténue e sem força de expressão.
Aprende-se finalmente a espremer o tempo.
Perante as muitas exigências do presente, não há passado,nem futuro..
O Aqui e o Agora têm finalmente lugar cativo.
Iniciado o processo resta-nos com ele fluir, com ele aprender, com ele transformar, e com ele aceitar ser-se transformado também.

Mas, saber não é ler.
Saber é viver.

E desde 20 de Outubro, dia em que foi diagnosticada ao meu neto de 10 meses uma leucemia, tenho vivido experiências de impotência, de dor profunda, de fé e de ausência da mesma.
Tenho mergulhado em profundos silêncios, ora sombrios, ora ensolarados, única forma que até hoje conheço de atravessar a dor, pois já perdi as ilusões que na Vida pudemos dela escapar.
Gasto muito menos palavras.
Apesar de entender a preocupação de quem nos rodeia, com humildade, decidi não passar dias inteiros a atender telefonemas, que me obrigam a grande esforço e a tremenda ansiedade.
Com tudo isto, vi-me também obrigada a aceitar, que para alguns não basta saber que o menino está a ser tratado, precisam de ouvir uma história, um relato com princípio meio e fim.
Precisam que se lhes atenda o telefone, que se lhes dê atenção.
Talvez um dia eu consiga fazer isto. Hoje não consigo.
Fica então a minha partilha sobre o que está a acontecer.
Com ela fica também a certeza que depois de uma noite escura e fria, indubitavelmente o dia NASCERÁ!

3 comentários:

  1. A vida é bem marota amiga, nem sei que pensar disto tudo :-(
    Abraço de alma e coração para ti e para a Cláudia

    Cristina Gonçalves

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  2. Tens que ser forte nestas alturas! Há que ter esperança...
    Um beijinho e um abraço forte.
    Teresa Cordeiro

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