No
percurso que fazia de carrinha ia observando tudo ao meu redor e perguntando
baixinho a mim mesma – será que sou mesmo uma boa menina?
Um
dia enquanto a carrinha não chegava, perguntei á minha avó “como era afinal ser
boa menina”.
Uma
lista de qualidades em forma de palavras docemente verbalizadas pareciam
encaixar na perfeição em mim.
Havia
no entanto uma que destoava - a de ser “sempre” obediente.
Precisava
de entender as coisas e nunca me convenciam as respostas “ não podes, porque
não”.
Apesar
de ter tido sempre um pezinho de fora, fui crescendo tapada pelo estigma da
“boa menina”. Nunca me foi dito que a sombra existia em mim, que nem tudo era
perfeito, que existiam rejeições, opiniões e frustrações com as quais teria de
lidar e pior que tudo isto, que o mundo SÃO era dos que ousam fazer diferente,
serem eles próprios e não dos que se acomodam à vidinha, repetindo o mantra do
queixume todos os dias das suas existências.
Algo
dentro de mim me puxava para quem EU era realmente e não para quem era suposto
ser.
Quando
a meio do Inverno a chover a cântaros, a minha mãe se rebeliava comigo por eu
querer levar meias até ao joelho para a escola e o meu pai discretamente lhe
dizia que se tivesse frio ou molhasse as pernas era um ‘problema-meu’, comecei
a perceber que existiam consequências nas minhas escolhas e pude desde cedo
saborear o doce sabor de algumas e o muito amargo sabor de outras.
Considerada
“ a rebelde da família” – (titulo que muito me orgulho) J aos poucos, fui-me desapegando de querer ser PERFEITA
e curiosamente ou não) fui-me tornando cada vez mais AUTÊNTICA.
Viver
próximo da AUTENTICIDADE e “imperfeita” num mundo de supostos perfeitos não foi
tarefa fácil.
Ao
longo dos anos, cruzei-me com outros que tal como eu escolhiam ser autênticos,
mas também fui desafiada a lidar com “sonsas – criaturas”, que nunca sabemos o
que estão a pensar, o que vão dizer, ou o que realmente gostam.
Agradadores
(as) por natureza, intimidam-se facilmente com a espontaneidade alheia
preferindo sempre serem reconhecidos como “pano-onde-nunca-cai-a-nodoa”
aconteça o que acontecer.
Mas a
verdade é que as ‘nódoas’ existem em todos nós. Carl Jung chamava-lhe a nossa
sombra. Parte de nós oculta, que ao aceitarmos que existe, faz verdadeiros
milagres connosco, pois naturalmente deixamos de nos “pré-ocupar” em sermos
perfeitos e passamos a querer ser o mais possível… autênticos.
A
autenticidade gera em nós um campo inclusivo, onde os nossos opostos se
complementam de forma natural, apontando-nos um caminho interior mais seguro em
direcção à nossa essência.
Já
refletiu sobre, como seria o mundo se todos fossemos autênticos?
Se
todos dissesse-mos o que sentimos, na hora que sentimos?
Se
todos procurássemos mais quem somos e menos quem queremos agradar?
Se
todos tivéssemos em consciência e a usássemos na relação com nós próprios e com
todos os Seres Vivos?
Se
todos reconhecessem que a grande PERFEIÇÃO é a VIDA que SOMOS, essa que torna
cada minuto irrepetível, cada SER ÚNICO, ORIGINAL logo…potencialmente AUTÊNTICO! :-)
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