Ana (nome fictício) tem 40 anos e segundo
ela, “nunca teve uma relação onde se sentisse amada e visse respeitado o seu
lugar “.
Durante seis anos manteve uma relação com
Mário que descreve como sendo “um homem bondoso, inteligente, com um sentido de
humor incrível, apesar de reservado e muito dedicado à sua carreira”. Após uma exaustiva “lista-de-atributos”, Ana baixa
os olhos e confessa finalmente a medo o “derradeiro-atributo” de Mário - ser casado e por
isso… indisponível.
Diz (com ar justificativo), que só aceitou
tal situação por gostar tanto dele e por acreditar de alguma forma que era
correspondida.
Queria no entanto por um ponto final na “
saga” (palavras dela), por se sentir sempre a mais, desrespeitada, mal-amada e
com uma vontade transbordante de ter uma relação saudável, onde finalmente
possa partilhar a sua vida com alguém que tenha espaço para ela.
Ao longo de várias sessões, Ana foi relatando
duros e difíceis episódios, que guardou em cofre de ferro anos a fio e que foram
revelando aos poucos a mágoa profunda que viveu ao lado de Mário, que completamente
indisponível marcava e desmarcava encontros, usando-a como e quando queria, criticando-a
constantemente, escondendo-a do mundo e nunca se interessando verdadeiramente
por ela, enfim… Ana esteve anos, num canto da vida de Mário, respondendo
prontamente a todos os seus anseios, mas nunca usufruindo do direito de também ela
“ ansiar”.
Vivia uma relação unilateral com alguém que
permitiu a sentásse (de preferencia quietinha), no... “ Banco dos Suplentes”.
Será
que o que fez com que Ana permanecesse anos sentada neste duro banco, foi mesmo
o “Amor” que sentia por Mário?
Talvez, não.
Quem sabe foi a sua indisponibilidade que se disponibilizou
para o indisponível Mário e, quem sabe, a sua falta de Auto-respeito e Amor-próprio
a buzinarem-lhe constantemente ao ouvido que não merecia mais do que as
migalhitas que ele escolhia com tanto “carinho” para a alimentar.
Apesar de repetir vezes sem conta que esteve
sempre disponível para Mário, Ana ainda não reconhecia nela o “valor” suficiente
para sair do “Banco dos suplentes”, onde se permitiu ser colocada, por
desconhecer ser digna de ter o seu próprio lugar.
Mas…qual era afinal o seu lugar?
O lugar de quem não só Ama, como se sente Amado.
Que é o lugar do respeito mutuo, da
confiança e da verdade.
Saber reconhecer-se como merecedora de Amor
com “ A”, foi um profundo trabalho de Ana, que depois de um tempo de “repouso”,
vive hoje uma relação, onde existe uma franca disponibilidade de duas pessoas, onde
por ter aprendido a respeitar-se, se sente respeitada, por ter aprendido a
posicionar-se na vida, ocupa o seu lugar, observando agora à distância o banco
sombrio onde anos se sentou - o “ Banco dos Suplentes”.
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