Hoje encontrei um amigo que não via há algum
tempo. Entre a banal conversa do “tudo-porreiro-tudo-a-andar”, revelou-me, falando
de férias, que estava fartinho do seu
casamento de sete anos. Segundo ele, pior que estar a trabalhar, é mesmo o “frete”
de ter de ir com a companheira para o Algarve, pois não lhe apetece continuar a
investir (!?) na relação.
Perguntei-lhe desde quando sente, que não
lhe apetece esse investimento. Respondeu em velocidade cruzeiro e com um tom
afirmativo – “sabes, cá pra mim, acho que assim que casei…só que não dá para
nos separarmos pá, as despesas são mais que muitas…”
Sorri. Será que ele ainda acredita que
estão “juntos”?
A verdade é que há mentiras que não se
contradizem.
Não vale a pena.
Frequentemente deparo-me com situações de
rutura, onde parece existir uma certa surpresa, (pelo menos de uma das partes),
por a relação ter chegado ao fim. Uma espécie de coisa repentina, onde nada,
nem ninguém fazia prever aquele desfecho. Como existe alguma dificuldade em
assumir a “verdadeira-verdade”, ( caso do meu amigo), uma das razões apontadas
para justificar a “surpresa” da separação, é sem dúvida o aparecimento de
“3ªas. pessoas” (acho o termo lindooo!!), que através da “traição”, são as
causadoras da demolição daquele prédio em ruínas, que há muito, se houvesse
verdade, teria sido demolido.
Mas, que maior traição poderá existir entre duas pessoas, que estarem (dis)traídas para o que é realmente essencial?
A
distração deste essencial, invisível aos olhos como dizia St. Exupéry, leva-nos para espirálicos poços, cujo fundo é
a escura indiferença pelo outro que deveria habitar em nós e que “dizemos-amar”.
Mas…o
Amor não se diz, mostra-se e revela-se em atos, afectos, atenções e espaço verdadeiro
para o outro. Quando de repente, (pensamos nós!), saído “do-nada”, já tornámos
o processo irreversível, somos convidados a desistir dele. É nesta altura que
muitos continuam a fechar os olhos e escolhem continuar distraídos, acreditando que aquele poço escuro terá luz, apesar de
saberem que não ousarão mais carregar no interruptor.
Mas…como
tudo na vida, também a (dis)traição
é uma escolha.
Uma escolha, muito idêntica aquela que
fazemos sempre que rodamos a chave na ignição do nosso carro, para que com ele
possamos ir onde pretendemos. Este processo diário, torna-se repetitivo,
aumentando-nos a confiança e destreza, mas…no entanto precisamos sempre manter
a nossa atenção no que nos rodeia e sabemos que uma “simples” distração pode
originar um acidente. O mesmo se passa nas nossas relações.
(Dis)Traímo-nos
delas sempre que não dizemos o que sentimos. Sempre que não estamos em Verdade.
Sempre que ignoramos o que o outro sente.
(Dis)Traímo-nos
delas
sempre que escolhemos não ter espaço para a relação. Sempre que insistimos em
não sermos autênticos e transparentes, em esconder, em omitir por medo da
reação do outro e da “consequência” dessa transparência para nós. Sempre que
permitimos desrespeitos, acusações, enredos melodramáticos, jogos psicológicos
de competição a dois, onde só um pode sair vencedor.
(Dis)
Traímo-nos delas sempre que aos afectos se sobrepõem as casas, os
carros, e tudo o que nos iludiu de UNIÃO.
(
Dis)Traímo-nos sempre que a indiferença marca e demarca o
território por nós habitado e sentimos o peso da solidão na companhia. Sempre
que podendo ser companheiros de viagem e caminhar em conjunto, optamos por não
sair de casa.
(
Dis)Traímo-nos, quando não temos coragem de deixar ir o que
sabemos não ser mais para nós, ignorando o prazo de validade a que a vida nos
submete e gastando com mentiras as chances únicas que só a VERDADE nos pode
DAR.
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