(ex)Pressões sobre o Amor
- E, sabe a Cristina qual a
principal razão do meu casamento ter terminado?
- Não, ainda não me disse.
- (sorriu com tristeza) Bem…foi ele ter pulado
a cerca durante anos sem que eu nada soubesse.
- Pulado a cerca?!
- Sim, ter acabado com o nosso
Amor assim de ânimo leve…eu dava-lhe toda a liberdade e ele não a soube usar…por isso fez o que fez.
Este foi o diálogo que me inspirou e me levou a refletir mais uma vez
sobre a forma como tratamos aquilo a que chamamos Amor. E, como faço parte dos
que acreditam que só a consciência pode realmente tornar nítido, o que por
estar ofuscado nos vai oprimindo, decidi partilhar com este post o que me
surgiu depois desta singela conversa.
Usamos as palavras e usamo-nos delas com demasiada facilidade. Quantos
de nós têm consciência de que elas são vibração e têm poder não só sobre nós,
como também sobre tudo o que nos rodeia? Cuspimos da boca para fora, um
chorrilho de disparates, que repetimos automatizados, sem ousar parar
para pensar e sentir o que estamos nós realmente a dizer e com que intenção o estamos a fazer. Pegamos em
expressões ‘populares’, que colamos às nossas vidas e elas parecem
esclarecer-nos, mesmo que nunca tenhamos percebido a fundo o seu verdadeiro
significado ou que elas sejam absolutamente incongruentes com o que estamos a
querer exprimir.
Peguemos neste exemplo.
Se consultarmos o dicionário, e verificarmos o significado de ambas as
palavras vemos o seguinte - “pular = passar por cima de um obstáculo
com um salto” e “ cerca = muro ou
vedação que rodeia um terreno”.
Se as “casarmos” não há que enganar.
O que aquela senhora queria dizer quando falava do fim do seu
casamento, usando este termo era para mim muito claro.
Foi preciso o seu marido passar
por cima de um obstáculo (relação onde supostamente existia Amor(?) , com
um salto (que alivio, ufa!), para se
libertar do muro ou vedação ( que se criou entre ambos e
onde ambos estavam aprisionados) para encontrar outro terreno ( onde quem sabe possa ser ele próprio mais fértil, outros fertilizar e não ser mais vedado por muros ou vedações).
Mas, será possível uma relação baseada no Amor ser um terreno cercado?
Quem é que pode permanecer assim, e não fazer uso do “ânimo leve” que tanto
parece ter magoado esta senhora?
Ao exprimir-se desta forma não estará a constatar assim a verdadeira-verdade do seu casamento?
Ou serão as palavras assim tão vãs?
Separemos o que não pode mais ser confundido.
Onde há cercas não há liberdade.
Ou serão as palavras assim tão vãs?
Separemos o que não pode mais ser confundido.
Onde há cercas não há liberdade.
Onde não há liberdade não há Amor.
Talvez nos faça falta, começarmos por estar mais presentes no nosso
presente.
Mais conscientes de que os tempos são de acção individual e não de
repetição colectiva.
Não nos (pré) ocupemos com as cercas alheias.
Ousemos nós pular as nossas, que nos mecanizam até as palavras e ter coragem
para sair destas (ex) Pressões que
só servem para fomentar a ilusão e o desamor.
Acho essa expressão deliciosa e um verdadeiro espelho da forma como as pessoas se olham e vivem as relações. Numa relação de verdade, entre pessoas maduras, não podem existir cercas, apenas amor e verdade. Senão, transformamos as nossas relações e a nós próprios num imenso zoológico do Séc. XIX, cheio de cercas e de indivíduos enjaulados em relações predatórias, expressão da confusão reinante entre amor e posse.
ResponderEliminarVerdade. ..."apenas amor e verdade.." Obrigada Paulo pela tua partilha. Recebe um abraço com carinho
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