domingo, 15 de abril de 2012


(ex)Pressões sobre o Amor

- E, sabe a Cristina qual a principal razão do meu casamento ter   terminado?
- Não, ainda não me disse.
- (sorriu com tristeza) Bem…foi ele ter pulado a cerca durante anos sem que eu nada soubesse.
- Pulado a cerca?!
- Sim, ter acabado com o nosso Amor assim de ânimo leve…eu dava-lhe toda a liberdade e ele não a soube usar…por isso fez o que fez. 

Este foi o diálogo que me inspirou e me levou a refletir mais uma vez sobre a forma como tratamos aquilo a que chamamos Amor. E, como faço parte dos que acreditam que só a consciência pode realmente tornar nítido, o que por estar ofuscado nos vai oprimindo, decidi partilhar com este post o que me surgiu depois desta singela conversa.
Usamos as palavras e usamo-nos delas com demasiada facilidade. Quantos de nós têm consciência de que elas são vibração e têm poder não só sobre nós, como também sobre tudo o que nos rodeia? Cuspimos da boca para fora, um chorrilho de disparates, que repetimos automatizados, sem ousar parar para pensar e sentir o que estamos nós realmente a dizer e com que intenção o estamos a fazer. Pegamos em expressões ‘populares’, que colamos às nossas vidas e elas parecem esclarecer-nos, mesmo que nunca tenhamos percebido a fundo o seu verdadeiro significado ou que elas sejam absolutamente incongruentes com o que estamos a querer exprimir.   
Peguemos neste exemplo.   
Se consultarmos o dicionário, e verificarmos o significado de ambas as palavras vemos o seguinte - “pular = passar por cima de um obstáculo com um salto” e “ cerca = muro ou vedação que rodeia um terreno”.
Se as “casarmos” não há que enganar.
O que aquela senhora queria dizer quando falava do fim do seu casamento, usando este termo era para mim muito claro.
Foi preciso o seu marido passar por cima de um obstáculo (relação onde supostamente existia Amor(?) , com um salto (que alivio, ufa!), para se libertar do muro ou vedação ( que se criou entre ambos e onde ambos estavam aprisionados) para encontrar outro terreno ( onde quem sabe possa ser ele próprio mais fértil,  outros fertilizar e não ser mais vedado por muros ou vedações).   
Mas, será possível uma relação baseada no Amor ser um terreno cercado? Quem é que pode permanecer assim, e não fazer uso do “ânimo leve” que tanto parece ter magoado esta senhora?  
Ao exprimir-se desta forma não estará a constatar assim a verdadeira-verdade do seu casamento?
Ou serão as palavras assim tão vãs?
Separemos o que não pode mais ser confundido.
Onde há cercas não há liberdade.
Onde não há liberdade não há Amor.
Talvez nos faça falta, começarmos por estar mais presentes no nosso presente.
Mais conscientes de que os tempos são de acção individual e não de repetição colectiva. 
Não nos (pré) ocupemos com as cercas alheias.
Ousemos nós pular as nossas, que nos mecanizam até as palavras e ter coragem para sair destas (ex) Pressões que só servem para  fomentar a ilusão e o desamor.
  

2 comentários:

  1. Acho essa expressão deliciosa e um verdadeiro espelho da forma como as pessoas se olham e vivem as relações. Numa relação de verdade, entre pessoas maduras, não podem existir cercas, apenas amor e verdade. Senão, transformamos as nossas relações e a nós próprios num imenso zoológico do Séc. XIX, cheio de cercas e de indivíduos enjaulados em relações predatórias, expressão da confusão reinante entre amor e posse.

    ResponderEliminar
  2. Verdade. ..."apenas amor e verdade.." Obrigada Paulo pela tua partilha. Recebe um abraço com carinho

    ResponderEliminar