quarta-feira, 14 de março de 2012

O rebuscado mundo das perceções

Tenho andado particularmente atenta nos últimos tempos á profunda influência que numa relação tem aquilo a que chamo o 'Jogo das perceções'.
Na verdade, sem que tenhamos disso consciência, vemos o mundo à nossa maneira e somos óptimos realizadores de filmes só nossos, que legendamos, começamos e terminamos, sem nunca questionar se aqueles filmes existirão em mais algum lugar que não seja o da nossa tão inspirada cabecinha.
Numa relação, a diferente perceção que cada um tem da mesma realidade, leva-nos muitas vezes para um jogo arriscado, onde interpretamos e inventamos o outro, sem nunca pararmos para pensar que podemos estar  redondamente enganados com a nossa rebuscada ‘interpretação’.
Somos peritos em efabular, romancear, dramatizar, tudo isto a partir do nosso mundo e da forma como nele nos posicionamos. Embriagados pelas nossas memórias e padrões, reagimos e projetamos para cima do outro tudo aquilo que em nós ainda precisa de ser ‘tratado’.
Num abrir e fechar de olhos, enrolamo-nos numa teia de mútuas perceções, que nos transformam em ilhas de difícil acesso, o que nos isola a cada inspiração mais e mais de nós próprios e do outro.
O Jogo parece simples e muito subtil.
Um, diz algo ou age a partir de uma determinada intenção e o outro interpreta e reage, a partir de outra, muitas vezes diametralmente oposta. Resultado, como nenhum está a comunicar partir da sua essência, o conflito instala-se e toma conta dos dois.  

Mas...como sair do Jogo das perceções?

Antes de mais, tendo consciência que ele existe e que por ele somos muitas vezes assediados.
Aprendendo a sermos observadores de nós mesmos, não alimentando as nossas perceções sobre o outro, mas sim expondo-as sem medo de rejeição e  julgamento.
Falando sempre – sempre mesmo - com parceiro(a), com verdade e transparência sobre o que se sente, ainda que para isso tenha de se deixar ‘arrefecer’ os ânimos e escolher a melhor altura para o fazer.
Percebendo que ‘ filmes’ não são a realidade e que a realidade é subjetiva.
Refletindo que nem tudo o que parece é, pois o que 'é' verdadeiramente não precisa de ‘parecer’.  
E, por fim, usando a linguagem do coração, que não mente, nem inventa.
Não avalia, nem interpreta.
Nem vê medo, onde só pode existir AMOR. 


1 comentário:

  1. acredito mesmo que seja possível mas numa relação "matura" com pessoas que querem crescer e que se respeitam, que acreditam num amor que te aceita como és

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