quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

DESTINO COMUM

Apesar de eternos, somos mortais.
Todos partiremos um dia, isentos de culpas, por mais que as queiramos manter, inimputáveis a maldições, nus e realmente desprovidos de companhia.
Assombrados por o que deixámos de viver por medo do que não conhecíamos, aceitamos agora com coragem o desconhecido que inevitavelmente nos espera.
De nós, na Terra, talvez fique apenas o estatuto ‘de-quem-partiu’.
Curioso observar o reconhecimento das nossas qualidades, que nos resumem e sintetizam em palavras vãs, como o comum - “era tão boa pessoa”.
Porque terá a partida a particularidade de relembrar os que cá ficam, outrora cegos, que algo em nós havia para ver?
Quem sabe esta certeza de que também eles um dia partirão.
Esta indubitável certeza, capaz de traçar um Destino-Comum, que preferimos ignorar em Vida, sempre que arrogantemente nos posicionamos à frente ou atrás, sempre que olhamos sem ver e vemos sem querer olhar.
Esta indubitável certeza que parece anular todos os lugares para onde em vida fomos, o quanto corremos, o quanto fugimos, o quanto amámos ou deixámos de amar.
Afinal, durante a viagem todos tivemos oportunidades.
O que cada um fez com elas traçou-lhe o destino na Terra.
Mas talvez a grande oportunidade tenha sido mesmo passar por cá, sabendo que, dê a Vida as voltas que der, existe um desígnio maior – este Destino-Comum, a que todos um dia seremos convidados. Convite de improvável recusa, com visto e passaporte na mão, para esse lugar desconhecido, que na simplicidade da existência nos torna inevitávelmente iguais.
Que importa se uns acreditam ser o fim e outros sentem ser apenas um novo começo?
Que importa as coisas que conquistámos, se com o tempo amarelecem e também elas vão?
Afinal nada fica, nem permanece.
Só o Amor. Este sim, capaz de anular tudo.
Tudo, menos… este Destino Comum.   

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